sábado, 31 de dezembro de 2011

A Última Festa Do Ano

 A Dança - Henry Matisse
Datas comemorativas, dias de festa e feriados...
Todos cheios de simbolismos e significados.
Um dia marcado para sorrir ou para chora.
Com o peso de histórias há muito vividas,
e outras tanta por contar.
Não sou alheia ao calendário,
como Pessoa penso: "se calhar, tudo é simbolo..."*
E como tal, me junto á massa e faço graça.
Brindo ao ano que vai nascer,
levo meu pano de guardar confete,
e guardo silencio aos que já foram.
Mas não abro mão do maior tesouro,
que é ver nascer o novo, todo dia,
mesmo quando não é grande a alegria.
mesmo quando sol não está brilhando,
e não se tem muitos planos.
Raro é ver a magia do dia comum,
entre um e outro, também comuns.
Dias de infortúnios, e perdas,
que escondem também, grande beleza.
E o melhor disso tudo, é ainda ser parte.


*Psiquetipia (ou Psicotipia) - Fernando Pessoa 
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fernando-pessoa/psiquetipia-ou-psicotipia.php
    
Ouvindo: Feeling Good - Nina Simone


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Publique-se, Registre-se e Cumpra-se

Cena de Tribunal - Forain Jean

Pessoas que se conhecem há muito tempo
e já passaram toda a sorte de coisas juntas.
boas e ruins
compartilham erros e acertos,
e uma empatia além de qualquer explicação.
grupo de pessoas que divide
carga genética, afeto e afinidades
e mesmo desafetos.
questões tantas, que por vezes parecem irreversíveis,
e até os são.
o perdão pedindo passagem,
mas sempre impedido pela falta de verdade.
difícil não é perdoar, é ver sinceridade em quem pedi perdão.
e a vitima é vestida de falsidade,
o algoz de injustiçado.
a solução é bem simples:
assuma seus erros e os faça sob os olhares de todos!
porque nada apaga o mal feito,
tão pouco o fará ser esquecido.
nada pode mudar o passado,
mas só a verdade pode iluminar o futuro.


Publique-se, Registre-se e Cumpra-se.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mudar

  Duas Mulheres Taitianas - Paul Gauguin

O que tenho de mais precioso em mim é a capacidade de mudar.
Mudar de cabelo, de estilo de vida, de casa, de bairro, de cidade.
Mudar de idéia, sim mudar de idéia é de longe a coisa que mais gosto em mim.

Pensei ter decepcionado-me de modo irreversível,
só ai percebi, que meu amor é sim incondicional
e o sendo, não limita-se, e tão pouco respeita convenções de qualquer tipo.

Ai então. vi todo o encantamento inicial ser substituído pela real consciência do amor.
O objeto do meu apreço perdeu adereços desnecessários
e ganhou brilho de coisa real, de pessoa real.

Sem deixar de ser especial em suas particularidades. já não faz uso de adornos.
Sinto-me leve e o sinto mais leve também,
por apenas ser quem é, e ser o bastante.



Ouvindio: Macy Gray - Finally Made Me Happy

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Deixo

Odalisca - Henri Matisse

Umas das coisas mais difíceis que há é saber deixar ir.
Deixar ir a quem se ama, a quem se quer por perto.
Muitas são as forças que nos afastam do que nos é caro.
E não é claro o efeito da nossa vontade.
Soltar para ver o que é meu de fato,
Porque deixando ir, permito que fique,
E se ficar é meu.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Que Anda Em Mim

Composição VII - Wassily Kandinsky

luzes por toda parte
cores e formas me chamam a atenção
olho em volta e não vejo sentido
nisso de ser tão impulsivo
sei do mundo que me povoa
sei da vontade que me move
sei do preço que pago por ser quem sou
sei da alegria de saber quem eu sou
era uma vez, uma verdade que de tão simples houve quem duvidasse...
e ainda assim, lhe mostro o que anda em mim.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Movimento

 The Runners - Faith Bebbington
 http://www.runnercommission.blogspot.com/


forçar o movimento
olhar além das coisas
escolher o som que melhor pode impulsioná-la
movimentar-se ainda mais
passos largos, firmes e rápidos
compasso acelerado no peito
ar frio que entra, corre por dentro
e sai quente
suor escorrendo pelo rosto
de branco já vermelho
mente esvazia-se como por libertação
agora mais rápido e mais intenso
passadas ganham força
ir além dos limites pensados
sentir o corpo vivo e a alma leve
chegar ao fim do caminho sabendo
que ainda não é o fim
voltar a correr por não ver sentido algum em parar


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Nosso Tempo

Erótica VII - Gustav Klimt

tempo, dias que se seguem
acalentados pelo som da sua voz
que me invade a alma
e aquece o corpo
o riso farto, palavra, por vezes dura
mas sempre franca
olho que me olha como ninguém
você é aquela pra quem eu quero me mostrar
aquela com quem quero encontrar
um jeito único de viver e amar
maior que o tempo
além do correr dos dias

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Meu Caminho


Campo de Trigo com Ciprestes - Vincent Van Gogh
muito mais que só palavras
mais que planos soltos no vento
quero o caminho de pé no chão
de sorriso largo e sem lamentos
tenho força de dez exércitos
e a paz da terra ainda não vista
não mais querer o impossível
tocar o centro da terra e ainda poder voar
o leão caminha plácido na savana
é rei e também filhote
se de nada vale o suor derramado
fica o sabor de caminho trilhado
e do meu lado a certeza de que
não há o que me faça parar
não antes do fim da estrada
não antes de terminar a jornada.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Abraço Mais Querido

Abraço - Marcia Marostega

a tarde vazia que se arrasta,
pelos cantos da casa ainda mais vazia.
a falta de quem ainda não esteve por lá.
silêncio intimidando todo som.
vontade remexendo-a por dentro.
certeza de que a vida é mais,
é ruidosa, é movimentada.
com risos e vozes dançando alto pela sala.
que os dias tem cores outras,
e não é dela estar só.
vai à rua em busca do que lhe falta,
mas não vê graça no que encontra.
é certo e claro o que ela quer.
e nada além satisfaz seu desejo.
ela vai encontrar aquela
que trará a cor certa aos seus dias
ai então estará em casa
no abraço mais querido
da mulher que será sua.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Mise En Scene

Mise En Scene - Alain Barnole

É noite e ela entra em casa como quem já não tem aonde ir. A sala vazia lembra o quanto a mulher combina com sua a mobilha. A mulher que não é sua, deixa vazia a casa por não estar. Ela sente o vazio de dentro. Há coisas, e coisas pedem por serem feitas, tocadas, carecem do sentido que a utilidade tem. Ela se entrega às coisas. É madrugada e ela se perde no olhar da felina que acompanha sua inglória busca pela casa cheia, a mulher por ser sua, os sons, as palavras. Ela tenta dormir, mas sabe que não vai. Insones sentem a madrugada ganhar corpo como que por instinto.
A água fria e forte do banho acorda o corpo e a mente. Ela sente a pele esfriar aos poucos e lembra as coisas de mulher. Põe-se a cuidar-se, sente-se esperada. Lava os cabelos demoradamente. Cobre o corpo com espuma e gosta do cheiro suave que fica em sua pele. Enrolada pela toalha, fita seus olhos no espelho. Sente-se bonita, quer ser vista neste momento em que realmente está muito bonita. Seca os cabelos descuidada. Gosta do vento quente e dos fios voando. Sai nua e anda pela casa como se nada mais houvesse.
Serve-se de uma taça de vinho. Muito civilizado ter vinho como companheiro de insônia, ainda que seja terça-feira e a rotina diurna cobre atenção. Sentada ao pé da cama, ela alcança um livro qualquer jogado pelo quarto. Os livros, os textos, todos os escritos espalhados como as idéias, os sentimentos, sim os grandes sentimentos espalhados dentro dela, que agora lê e pinta as unhas de vermelho. As unhas vermelhas a lembram da mãe. Ela tem os dedos da mãe, os dedos e não as mãos da mãe. Sempre viu graça da forma com foi montada com pedaços tirados da mãe e do pai. Alguns de tão misturados, tornaram-se apenas dela, sendo impossível dizer à quem pertenceram antes.
A mulher não vem, ela sabe que ela não vem. Nem ao menos disse que viria, o que não a impediu de querer. Querendo viu a porta se abrir incontáveis vezes. Vai amanhecer e ela não quer ver amanhecer. Sentindo-se ainda muito bonita, deita-se nua e finalmente dorme.
A mulher acorda cedo, bem mais cedo do que costuma acordar e do que lhe é confortável. Ainda assim não se demora na cama. Pôs-se pronta rapidamente, dispensou o café da manhã e deixando a casa que já foi sua sente ainda alguma estranheza por ter outras chaves em suas mãos. Ainda tomando o suco que tirou distraída da geladeira, pensa que não há muito sentido no caminho que faz àquela hora da manhã. Mas há urgência no seu corpo. A mulher sabe do que precisa. Pensando nela, sente o corpo vivo. Pode ouvir-la recitando Pessoa, e o caminho é longo demais para o tamanho do que se move na mulher.
Para diante do portão, usa a chave que já lhe é familiar. Chave que ela lhe deu, sem saber ao certo o porquê, e a mulher aceitou por não duvidar dela. Abre a porta que a leva até a sala, a mulher gosta de entrar na casa ainda silenciosa. Descalça as sandálias, vai até a cozinha e serve-se de água. Volta à sala e tira toda a roupa, deixando a sobre o sofá. Pode ouvir-la dizendo que a mulher combina com sua mobilha.
Abre delicadamente a porta do quarto, para e põe-se a olhá-la longamente. Ela, dormindo de bruços, nua com a manhã entrando suave através das cortinas e pintando-a com luz e sombras. A mulher aproxima-se lentamente para não despertá-la. Tira o lençol que pretendia cobrir seu corpo, mas apenas o cruza desleixado. Ela se mexe, ainda dormindo, parece saber que a mulher está ali. A mulher entra nela sem palavras, ela a recebe sem palavras. Abre os olhos como quem não precisa abri-los e o faz apenas para dizer o que os lábios calam, mas eles, os olhos, gritam!
Gira o corpo para recebê a mulher de frente, aberta, e a encara com firmeza. Caladas declaram o amor assim como o tem amado. Um amor de bicho, sem razão, que vive no sem tempo de dentro, na hora parada do mundo de fora. Um amor que encontra eco, acolhimento, é forte e ainda assim se faz de pequeno para não assustar as amantes. A mulher sabe que é nela o seu lugar. Ela entende que ainda não sendo sua,  aquela mulher como olhos de menina, é seu desejo. No gozo acalmam a urgência, ela recebe o que vem da mulher como coisa sua, e em troca lhe dá o que vem dela. Misturadas, suadas, abraçadas, agora já encontram palavras. Falam de amor quase nada, contam segredos, medos. Planejam viagens, provam o mundo antes de saírem da cama. A água agora lava os corpos das amantes. O banho agora é cheio! Tocam-se enquanto trocam palavras soltas. Riem, e ela coloca a mesa para a mulher, ela faz o café e lembra-se de como a mulher combina com a mobília. A mulher não demora. Ela corta o pão em pedaços pequenos com a mão, um a um, a mulher o parte ao meio. A mulher usa açúcar, ela toma puro às vezes . Elas nem sempre se sentam nos mesmos lugares. A mulher sempre acha graça da miss and cene. Ela sempre faz a miss and cene. E elas lamentam juntas sabor das horas e do mundo lá fora.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Reencontro


Vista de Santa Teresa, Rio de  Janeiro - Arquivo Pessoal

Ela ouviu-o chegando, foi até a porta e antes de alcançá-la, viu-o ainda do lado de fora parado olhando-a. Não sabia como agir, a muito não viam-se e a estranheza era maior por não existir de fato. Parecia que haviam estado juntos até um instante antes. Se havia algo de estranho naquele encontro, era por estar ela na casa que sempre foi dele. E ele chegando, estrangeiro, a casa de seus anos anteriores. Abraçaram-se um tanto bobos, como que sem crer na verdade do que foi desejo em ambos por tanto tempo. Andaram tímidos pela casa, sentaram no sofá da sala e falaram amenidades, as mais difíceis amenidades que já haviam dito. Olhos que procuravam-se e mãos que tocavam-se acidentalmente. À pretexto de coisa alguma, ela levantou-se e foi até o quarto, deixou a porta aberta. Sentou-se diante do computador que é dele, e falou qualquer coisa que troxe-o até a porta.
Ele parou e olhá-a nos olhos. Deixou as mãos correrem pelos cabelos castanhos dela, sua pele muito branca, olhos pequenos e quase negros. A boca vermelha, agora ainda mais vermelha. Tudo ainda mais bonito do que ele era capaz de lembrar. Era real, quente e urgente diante dele. Ela surpreendeu-se com ele ali tão perto. Sentiu o cheiro dele muito mais forte do que havia sentido pela casa, e mesmo na cama na qual mal dormira na noite anterior. Quando ele tocou-a, ela sentiu frio na espinha. Levantou e beijou-o como havia feito em pensamento muitas vezes durante a separação.
Entre lábios, e línguas, e mãos, despiram-se e reconheceram-se nos corpos preparado para o encontro, disfarçado de almoço amigável entre pessoas que amaram-se. Entregaram-se com tamanha emoção, que escondiam um do outro, olhos mareados. Lágrimas que caiam discretas, sorrisos espantados e pensamento que insistiam em violar o silencio da cama. Calaram como que por acordo prévio. Se há o sem tempo, que agora este seja sem palavras.
Logo o amor pediu expressão, cederam falando das coisas de dois. Falaram de um sábado de Abril, uma quinta-feira de Janeiro, falaram do tempo feito de encontros e não de dias, em vontades e não horas. Contaram coisas do tempo que ficaram longe. Saudades, acidentes, desejos, e medos. Riram de suas histórias, engoliram o choro de suas dores. E amaram-se mais. Admitindo a certeza de que naquele encontro seriam novamente os amantes de antes, acharam graça das suas duvidas e chegou à noite e ele não partiu.
Seguiam dançando, falando, beijando, e falando, e dançando. Madruga na varanda viam as luzes de duas cidades e uma baia. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Desencontro


Françoise Gilot - Pablo Picasso

como se fazer entender,
quando tudo que se faz ou fala
parece tomar forma outra
que não aquela que
aqueceu o peito no momento em que foi sentido?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Admirar é Amar

Amar é admirar. Não concebo o amor longe da admiração. De certo a razão da admiração muitas vezes não é fácil. Já questionei muitas vezes meus amores pela vida a fora. Ainda me vejo pensando o quão incondicional pode ser um amor. Mas vejo repetidas vezes à incondicionalidade do amor em xeque pela simples falta do admirar ou o fim do mesmo.
Enquanto amo, cobro pouco. Como se o que vier gratuitamente tivesse valor maior ante o exigido. Penso perder coisas nesse caminho, mas é certo ter o que se ganhou por ser genuíno.
Tenho a triste clareza de perder o amor que havia em mim no instante da não admiração por aquele que chamei amado. É um instante mais que um processo. Como chegar ao fim de um download. Cai a ficha e tudo muda. Dar-se conta é mágico. O momento do entendimento. E tudo não é mais como era antes. E fica o que restou do amor, talvez mais pelo amor que foi sentido que pelo amado de fato. Um não-sei-que nostálgico do bem que se quis, dos planos que se fez, de todas as possibilidades que se teve.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Na Floresta

Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro - Arquivo Pessoal 


Na floresta gosto de segui-la,
Assim ela mostra o caminho.
Falamos enquanto caminhamos,
Observamos cada pequeno detalhe do caminho,
Por vezes calamos.
Gosto de vê-la andando,
Gosto de sentir-me desafiada,
Do corpo em contato com a terra e
Todos os cheiros do mato.
É mais um de meus feixes de contradições,
Não sigo roteiros e
Crio minhas regras.
Sou atenta ao que ela diz,
Aprendo de olhar.
Entramos em uma trilha muito fechada,
Há muito não usada.
Ela diz que o fim compensa o caminho.
Não duvido.
Chegamos ao topo, uma pequena clareira e um precipício.
Lá embaixo a cidade.
Perco-me admirando a vista,
Viro e ela já está nua.
Gosto de vê-la nua,
Mais ainda num cenário tão especial.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Defeitos

 Carnaval de Alerquim - Miró


seus defeitos?
no começo não os percebi,
depois não os julguei relevantes.
agora você já não é importante.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Uma Fase

 Mulher Só - Telma L. Moreira


muitas coisas
Que eu não consigo entender
Coisas sobre o amor e as pessoas e nós
Quando eu vi você, eu decidi

Não ter medo.
Coloquei-me em risco.
Mas eu realmente não me importo
Porque eu sinto sentimentos tão bons
Que eu não posso ser diferente
Só eu
Nua, clara, pura, alegre
Nestes dias eu tenho trabalhado muito
Eu tenho pensado muito
Eu tenho sentindo muito
Eu acho que não é apenas uma fase
Acho que vai ser bom
Porque não é apenas uma fase.
Eu ainda suspiro por você.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Doce Alegria

Cabeça de Mulher (La Scapigliata) - Leonardo Da Vince


Como posso alegrar-me do seu pesar
ainda que eu sinta que tudo isso vai passar?
Como posso ser hoje a sua alegria
com tantas feridas que curar eu gostaria?
Minha doce alegria, 
tenho com você os sonhos mais lindos.
E uma calma que nunca foi minha,
coisa que invade-me agora e
mostra-me o valor de esperar.
Não tenho certezas, não sou vidente.
Trago em mim apenas,
o bem querer maior do mundo,
e um desejo profundo...
desejo de você.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Apenas Somos


Dois nus de pé - Foto: Louis Daguerre



Se vosse você meu oposto,
eu teria gosto em ver você sorrir.
Se vosse você meu oposto,
eu pensaria de novo o meu jeito de seguir.
Se vosse você meu oposto,
eu veria possibilidades na forma de sentir.
Mas não se trata de opostos ou iguais,
as diferenças não são grandes demais.
Apenas somos e fim.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Solidão Rodriguiana




A solidão rodriguiana, desta eu já ouvi falar. Li à respeito em visceral entrevista dada à Clarice Lispector. Ouvi da boca de uma amiga, e senti com ela um pouco deste gosto estranho.
Com tudo, tive maior dissabor ao provar com intensidade descomunal a solidão entre amigos. Não amigos de qualquer nota, mas aqueles de toda a vida, de todo dia. E de repente, eu ali perguntando-me o que fazia com aquelas pessoas, como se já não as conhecesse mais. Um jeito estranho de ver-se mudar, pois muda o seu olhar para o outro. Não é o outro que muda. E, se muda, não é relevante, o que vale é o olhar para o outro.
E isso eu pude ver, com penar na alma e uma melancólica alegria, que mudou. Pensei estar afastando-me das pessoas que são-me caras. Não,  estou em busca do que realmente é importante em mim, e ai sim saber reconhecer no outro o que falta-me, completa-me, instiga-me, encanta-me, faz-me querer o outro por perto.
Um momento de solidão, um disfarce, um momento de reflexão. Sou eu olhando não mais apenas o espelho, mas vendo através dele, e ao inverso. Sinto como ante grande transformação, de tudo o que há pouco restará. Mas, o que permanecer, será forte e vivo.

sábado, 19 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sentidos

Galarina e Sonho Causado Pelo Voo de Uma Abelha ao Redor de uma Romã Um segundo Antes de Acordar - Salvador Dali
http://www.dali.gallery.com/

Se eu pensar que você sente como eu,
Não ver você perderia o sentido.
Se eu pensar que você não sente como eu,
Ver você perderia o sentido.
Pensar já perdeu o sentido,
Mudar o que sinto não faz sentido.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Meu Querer

A Própria Terra, Minha Enfermeira e Eu - Frida Kahlo




tomou o meu corpo em suas mãos
envolvendo-me 
movendo-se lentamente
seu corpo junto ao meu
em movimentos ritmados
levando-nos além
entrego-me por inteiro
e encontro todo o meu querer

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Pensar e Sentir

Retrato da Modelo - Giovanni Boldini


A verdade é que consigo pensar racionalmente,
Mas não consigo sentir racionalmente.
E se estivéssemos no mesmo lugar,
O pensamento seria insaciável.
Eu sou muito sexual.
E não há banho frio que me cure.
A ideia de suas mãos no meu corpo,
Ideia que vive além dos limites da mente,
Está na minha pele, poros, percorre-me por inteiro.
O beijo quente, molhado,
meio que mordendo, arrastado, dolorido...
E eu pergunto-me quem é mais louca eu ou você?
Eu gosto dessa loucura...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Transformação Vital

Os Felinos - Franz Marc



Ele disse, no escuro, ainda dentro dela. Ele disse “amo você”. Disse o nome dela, e disse “amo você”. Encheu-se dele, das palavras dele. Calou, como que para não macular o momento. Não ansiou por ouvi-lo repetir tais palavras. Não havia razão alguma para repetições. Estava dito. Acolheu suas palavras, no escuto. Mal via seu rosto, mas as palavras ainda as escuta.


A primeira vez em que o ouviu a voz dele não tinha um rosto, e não precisava ter. Voz. Foi primeiro a voz.  E só depois as palavras, que se mostraram tão próximas, coisas que ela diria. Ai veio o gesto, o jeito de olhar no seu olho com o olho brilhando. O riso alegre, um ar de menino. Não havia o que cuidar no menino, pôs-se a brincar com ele.


A rua, dúvida, vontade e escolha. Um silêncio de anunciação. Caminharam ainda um tanto afastados, sabendo que o caminho fora aberto. Veio o crescente encantamento, alegrias bobas, alegrias tão bem vindas. Mais olhos que se olhavam alheios ao resto do mundo. Ouviram muito, mostram ainda mais. A despedida, um tanto sem jeito, medo de interromper o encantamento. Por fim o beijo, adolescente beijo que não quer acabar de beijar. O beijo que parou para dar tempo da vontade crescer. Antes um último som, que falava sem rosto, mais do que as palavras diziam.


A vontade cresceu. O reencontro, um novo lugar, palavras, muitas palavras e corpos que seguiam por vontade própria. A porta se fechou e os corpos falaram sem palavras, misturando-se, desejando-se, encontrando-se. Não couberam regras, elas ficaram do outro lado da porta. O tempo parou, a noite virou dia e deixou a certeza de um momento único compartilhado. Um encontro, um reconhecimento, a clareza de que começara ali um não sei o quê mágico.


Pessoas comuns não se metem em encrencas, não quando as podem evitar. Pessoas especiais pressentem encrencas e sabem que não há outro caminho a seguir. Seguiram.
Misturaram-se, ele trouxe música de volta a casa dela. Deitou ao seu lado na cama. Despertou-a de tantas formas que fez da manhã mais colorida. Ela pôs a mesa enquanto ele a olhava. Via-se feliz, com a mesa posta e ele ali, falando de coisas que a fazeram sentir uma profunda clareza quanto à não existência do tempo. Só o momento repetindo-se de formas múltiplas.


Tempo, em verdade esse nunca parou, só o ignoravam. Porque de fato o tempo era outro. Há muito conheciam-se, e os dias que seguiram-se soavam como anos, repletos de momentos tão familiares quanto surpreendentes. Olhando para ele entendeu que as coisas estavam onde deveriam estar. eles estavam onde deveriam estar. Onde queriam estar.
Eis que houve o que no intimo temiam, o real, o tempo. Passado e futuro questionando-os, cobrando respostas a perguntas as quais não queriam responder.  Melhor não existir ontem, melhor ser só agora! Todos os dias sendo só agora. Pessoas, ainda que especiais, não são perfeitas. Por isso são especiais. Hoje há música em casa. E ainda que ele não esteja lá, ela ri com felinos.



PS: ao som de “The Mahavishnu Orchestra - Vital Transformation". (muito apropriado!)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Bolhas

Bolhas de Sabão - Sir Jonh Everet Milla


Felicidade não é prêmio ou conquista, é resolução. 
Um dia você decide que será feliz. 
Não se seu time vencer, 
não se ela amar você ou se você ganhar dinheiro. 
Você será feliz por estar vivo e esse é o único motivo... 
Eu  vejo a felicidades como coisa simples, 
é bolha de sabão, 
se enche de ar, 
flua coloria,
e de repente estoura, 
finda-se. 
mas quem decide ser feliz,  não pensa no que perdeu, 
alegra-se pelo que teve.
Não tem medo de ser feliz de novo... 
faz outra bolha, 
e é feliz por vê-la no ar pelo tempo que durar...

domingo, 13 de novembro de 2011

Eu Sou, Você É


Amendoeira em Flor - Vincent Van Gogh


Você chama-me amor na escuridão,
Você diz isso com palavras e silêncio.
Em silêncio, eu vi o seu coração,
é tão bonito, e não há palavras lá.
Eu vou chamá-la amor.
Tempo, vida, razão,
O certo e o errado.
Não há nada que pode manchar nossos sentimentos.
Somos livres quando vivemos a nossa verdadeira forma.
Eu sou, você é.
Isso é tudo que eu preciso saber.
O resto é nada,
E eu não me importo.

sábado, 12 de novembro de 2011

A Menina

Uma Menina Escrevendo - Henriette Browne


A menina criava historias, brincava com as palavras. Olhava o mundo com encantamento, tanto o mundo de fora quanto o de dentro. Por cercar-se do lúdico, via cores outras no cinza do real. Uma alma inquieta, buscando o que há de bom, belo e amado nos mais simples acontecimentos.
Muitas vezes a julgaram tola. Dotada de grande impulsividade, jogava-se na vida como quem salta precipícios diariamente. Os medos que tinha eram poucos, e não os temia de fato, eles a lembravam de sua humanidade. Mostrava-se forte, tanto que muitos a chamavam fortaleza, mas tinha fraquezas sim, apenas nunca se rendia à elas.
Optara pela vida muito antes de pisar esse chão.
Em dias de chuva, andava devagar, gostava de sentir os cheiros das coisas mudando. Por vezes deixava-se molhar. Conhecia a maldade do homem, e insistia no velho hábito de crer. Crendo sentia-se viva.
Muito do mundo ela intuía, alimentando-se daquilo que amedrontava o rebanho. Encenava sonhos, e a noite visitava mundos outros. Tinha os olhos de menina e a palavra de anciã. Sendo sua própria tribo, travou guerra e dançou em volta do fogo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Diálogo I


 
“Ohhh...Alright...”- Roy Lichtenstein



- Isso é muito doido! Nossa... Ficaria horas da minha vida me perdendo em você...


- E como acontece isso?


- Apenas enlouquecida pela pessoa. (pausa) Momento reflexivo: Sentindo apenas, sentindo tudo que foi dito... Pensando em tudo e um pouco mais, até a cabeça dar nó.


- Hum...


- Deitando ao seu lado só pra abraçar você, colocar a cabeça no seu peito, num aconchego terno.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Sofá

 Mulher no Sofá - Isa Pontual


A fantasia perfeita,
Alimentar-me apenas de sexo e água.
Um banho frio
Para que eu possa mexer-me.
Com uma ideia fixa,
Não que isso seja ruim.
E o que você é?
É o que está em torno dela.
Praticamente uma sessão, com a diferença da lucidez.
Indo fundo até o desfecho
que é tenso.
E o sofá foi feito para isso...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Querer Além do Quando

Estudo de Mulher - Luiz Gonzaga Duque Estrada



engraçado como se escolhe as palavras...
quando você está presente me atenho aos detalhes
quando não está, me deixo levar pelos pedaços da memória
ainda mais quando me deito, e deito ao lado a sanidade
matando minha sede com as palavras que bebo de sua boca
me vejo andando de um lado à outro
e você me puxando pelo braço
me trazendo para o seu colo
eu, com o pensamento fixo em você
só a vontade de ter você
até que se misture à mim e
quando me toca desliza suave para o dentro de mim
e no fim, olhar por cima do ombro e ver você,
sentir você pesar o corpo no meu corpo
virando lentamente e olhando tão profundamente
como que me vendo por dentro e inteira e além
me levando muito além

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Isso Que Não Tem Nome

Musique - Matisse

você se mostra de maneiras não pensadas
e eu sigo o mesmo caminho
ou é você que responde ao meu chamado?
não sei quem deu o primeiro passo
quem começou isso que não tem nome,
e que nos consome
inútil tentar resistir
você já entrou em mim
povoou minha alma com sonhos e desejos
hoje é você o que chamo sonho e desejo

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Há Quem Diga

  Mulher no Boxe - Alyssa Monks


Há quem diga por ai
que não sou fácil não!
que digo a coisa errada
na hora mais inapropriada
que sempre chego atrasada
e falo muito palavrão
que sou impulsiva demais
exagerada demais
ansiosa demais
que faço perguntas demais
penso demais
amo demais
que ora durmo demais
ora fico insone demais
e nunca digo o que me dói
que desafino loucamente
erro a letra, displicente
troco os moveis de lugar
falo coisas esquisitas
gosto muito de birita
e de música pra dançar
que vou muito à rua
ando sem pressa na chuva
sempre quero ver o mar
que sou cheia de vontades
muitas vaidades
e verdades no olhar
que não tenho tempo ruim
com muitos bichos à minha volta
e alguns monstros dentro de mim
que faço pose e acho graça
rio alto e sou devassa
tudo pra não mostrar o que trago em mim
digo:
-Sou mesmo assim!
e um outro tanto de coisas
que não cabem aqui
coisas que só pode vê
quem um dia me descobrir

domingo, 6 de novembro de 2011

Flores Com o Nome Dela

Margaridas - Gravura - Miguel Vasques



quero plantar flores pelo mundo
flores com nome dela
que falem de amor profundo
exalando perfume de primavera

quero flores por toda parte
no canteiro, no vazo, na janela
flores também na minha pele
e pelos cantos da casa dela

que falem de amor profundo
exalando perfume de primavera
quero plantar flores pelo mundo
flores com o nome dela

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Para Dizer Adeus

A Carta Gravura em Metal e Xilogravura - Frans Wesselman


Pessoas se vão o tempo todo
Por vezes entendemos a razão no partir
Mas, quando quem se vai é gente nossa
O pesar é tamanho, que fica difícil sorrir
Olhamos em volta,
Buscamos à quem não está mais
Encontramos alento em abraços e rostos
Ainda mais familiares
Irmanados em algo maior que o sangue
A dor estampando os olhares
Choramos juntos, o consolo no afago calado
Tudo ainda tão vivo!
O riso, a palavra ora centrada, ora muito engraçada,
o apelido de infância
Que não morram as lembranças!
A saudade e o legado
De quem muito lutou por permanecer ao nosso lado
e hoje segue aqui, sendo parte,
No peito da gente por ela amada.




Saudades, Ursula lá lá lá...







quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sonho

 Sonho - Marc Chagall
meus sonhos eu sonho como quem respira
alimento-me deles e por eles canto meu canto
a voz por vezes embargada, e ainda assim canto
telas de cores múltiplas eu pinto
retratos de uma história de amor
levo a menina nos olhos e por ela perco o sono
a noite segue e eu canto
ainda que ela não possa ouvir
meu canto hoje é prece:
que ela sinta o acalanto nas minhas vontades
que ela veja o brilho nos meus olhos
que ela ouça a verdade das minhas palavras
que ela durma nos meus braços
que ela tenha uma boa noite
que ela receba o meu bom dia
e no fim de tudo, que ela esteja aqui, forte do meu lado

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Na Rua

Duas Mulheres na rua - Lasar Segall
Você sai à rua e é lá onde eu quero estar
A sua espera, no ponto combinado
Andar ao seu lado, sem medo da chuva
Chuva que molha o corpo e limpa a alma
Faz novo o mesmo querer
Ouço sua voz em meio aos ruídos da cidade
Ela se faz mais clara, viva, você mais viva
Eu espero, perco o sono, mas espero


domingo, 30 de outubro de 2011

Vontade

Danae - Tiziano Vecellio
das vontades que tenho agora,
as mais simples gritão mais alto
você à mesa enquanto eu termino o jantar
falando alto na hora do jogo
rindo feito criança de uma besteira qualquer...
só a vontade de você não cala!



sábado, 29 de outubro de 2011

Um Dia Sem Você

Beach in Pourville - Claude Monet


silêncio não seria problema depois do que foi dito,
outras palavras tornam-se desnecessárias
os olhos brilham, o sorriso fez-se frouxo
o dia ocupou-se de coisas
e ela pareceu-lhe presente no seguir das horas
lembrou-se de um verso:
*"I carry your heart with me"
repetiu-o baixinho algumas vezes
palavras de aquietar o coração
mas este estava aos saltos
feliz e cheio de vontades
quis subir ao topo do mundo
sentiu mesmo que podia fazê-lo
optou por fazer coisas suas
foi à rua, moveu-se intensamente
voltando à casa, esperou por ela.


*E.E. Cummings - I Carry Your Heart With Me
 Sentindo:
"Outrora eu fui tua princesa e amámo-nos com um amor de outra espécie." Fernando Pessoa

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ao Amor, Assim Como Eu o Tenho Amado

Noite Estrelada - Vincet Van Gogh
Esse que chegou-me sem alarde.
Vestido de mistérios e sons,
entrou-me pelos ouvidos,
e invadiu-me a alma.
Inquietude e alento.
Tímida certeza, que cala os lábios,
é verborrágica e latente no dentro de mim.
Visão dos meus desejos
a quem não quero deixar ir.
Porque, para além de qualquer fato ou estado,
é coisa rara e cara.
My inner vision.
Meu segredo, meu grito de exaltação,
da noite dividida, do tempo que é agora.
-Palavra forte que toma-me,
ouça o que grita o meu silêncio!
Calada, falo do amor, que não cabe em palavras,
e assim, deixou-me em estado de graça.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dar-se Conta


Ipanema - Foto Adriana Schimit Lindner

Dar-se conta é algo que sempre encantou-a. Exceto quando dava-se conta de algo maior que ela mesma. Nas tardes de sol saía à rua e misturava-se as pessoas do mundo. Cores e sons que povoavam sua mente mas não eram capazes de silenciar sua alma. E a alma falava de tanto querer que era difícil ver o que o mundo lhe mostrava.
Os caminhos sempre a levavam à beira. Ela parava na borda do mundo e reconfortava-se com a amplitude do mar a sua frente. De todos os lugares visitados, aqueles em que demorou-se mais um bocado, e nos quais pensou em ficar, sempre pensava na borda do mundo. Ela entendia melhor o mundo à beira do mar.
Um dia como outro qualquer, o sol na cidade mais bonita. Andando pela rua sentia-se perdia em si, mas ainda assim em casa. Sentindo-se povoada por feixes de contradições. Chegou até a praia e teve vontades múltiplas. Quis ficar, deixar o dia acabar ali. Quis correr, cansar o corpo, suar seus dilemas. Quis voltar à casa e encontrar abraços.
Pisou a areia ainda quente, e foi até a beira da água. Deixou molhar os pés e ouviu o barulho das ondas. Entendeu que amor é como mar, e querer é feito maré. Sem explicar e deixou-se inundar pelo gostar que invadia-lhe a alma. Deu-se conta e pode dormir, ouvindo o mar quebrar no seu travesseiro, na respiração compassada, da razão de suas inqueitudes.


Sentindo Coralina:
"Coração é terra que ninguém vê- diz o ditado"'

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Inverno

Mulher a Janela - Claudio Tozzi
Você que é feita de vento e mar
deixa-me sempre e de novo
O inverno é hoje porque
É eterno o seu dia de partir
E partiu-me a cara, e todo o resto
Em tantas partes que ainda junto os cacos
Tentando entender isso de viver sem você
Parece que foi ontem e já faz tento tempo...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

História Que Não Nasceu

La Vie Et La Mort du Peuple - Gerard Fromanger
http://www.artrealite.com/gerardfromanger.htm 

De tudo o que lhe dei,
meu corpo, meu alento,
meu desejo, minha devoção,
minha perversão, admiração,
minhas palavras mesmo as caladas,
meu cuidado, o meu amor.
De tudo que lhe dei
o que havia de maior valor você maculou.
Eu lhe dei minha verdade.
Eu lhe dei pouso no meu peito
que nada mais pediu além
daquilo que não precisa ser pedido
a quem profere palavras de amor.
Ainda assim, repetidas vezes perdoei-o.
E vi vulgarizar-se em seus lábios
o pedido por perdão.
Ainda assim eu perdoo-o,
não por nobreza ou coisa que valha,
sim pela clareza do amor que tenho em mim.
Não alimento rancores,
apenas o saudosismo daquele que enterra um sonho,
ou perdeu um filho que não nasceu.
A nossa história é uma linda história
que não nasceu.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Amor e Outras Questões

O Lago - Tarsila do Amaral
O que faz com que alguém não se perdoe é a grande razão dos desencontros. Pessoas se cruzam o tempo todo, e ainda assim, parece que elas não se veem verdadeiramente. E o que verdadeiramente seriam elas?
Digo, somos todos seres mutáveis, e como tal não há razão para constância nas atitudes, em situações que mesmo semelhantes, são sempre outras. É o que faz com que cometamos equívocos distintos, ainda que causadores de sentimentos muito próximos.
A capacidade de perdoar o outro é supervalorizada diante da capacidade de perdoar a si mesmo, e consequentemente aceitar o perdão. A culpa é maior e mais pesada para aquele que erra. E como agente causador da dor, esse sim carrega o peso da não aceitação e incompreensão do perdão.
É triste ver histórias interrompidas, pela incapacidade de ver como sentimentos mais intensos podem estar livres de convenções e posse. O que pode ser mais importante do que o gostar puro e simples?
“Unconditional Love” é só um filme, mais que isso, me caiu como uma verdade. Amamos porque amamos, não por qualquer outra razão.
Não defendo a continuidade de relações falidas. Defendo a clareza e a coragem de reconhecer o Amor, a despeito de convenções.
Agimos dentro do socialmente aceito, que nos diz até onde podemos amar. Proponho uma medida única e individual, onde o que conta é o quanto o amor nos é caro, independendo tudo que não é amor.
Assim, quando o fim se anunciou, ela o recusou. Não por medo da dor, mas por entender que para além da dor e ainda maior que a mesma havia o amor, até então indizível. Amor que cresceu na pureza e sem relógio, que não temia e tão pouco cria no tempo.
Seria ótimo poder marcar uma data para conhecer alguém. Um dia, entre os nossos passados. E ainda que não seja possível, nós nos encontramos, nos reconhecemos. E todo o resto perdeu o sentido frente ao momento em que falamos sem palavras. Um encontro marcado, mas se nós podemos fazer nosso tempo, porque esperar o tempo do mundo?
A perda foi mais dolorosa que o previsto, e surpreendentemente a aceitação de que coisas fogem ao seu controle e que minimamente o autocontrole não pode lhe escapar, ainda que não por completo, fez com que os dias seguissem e ela seguisse a vida.


Pensando: “O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus" - Oswald de Andrade

sábado, 22 de outubro de 2011

Segredo

 O Segredo - Miza Pintor
Tenho para você um segredo
desses gostosos de contar
seu riso me enche a alma
me dá vontade de cantar
te vejo de longe,
se chegando devagar
digo: não tenha pressa
é bom ver você se aproximar
ás vezes me assusto
por você de repente parar
ai respiro fundo e penso:
na hora certa ela vai chegar
afinal o que eu espero?
um longo tempo de amar.

Amei

Mulher e o Gato - Di Cavalcanti
amei você,
em muitos momentos
amei você,
de muitas maneiras,
amei você.
umas tortas
outras novas
amei você
e amando
dei-me,
abri-me
joguei-me...
achei tal sorte
de alegrias tolas
que me vesti delas
e ri,
e dancei,
e sonhei...
até que vi
o que sempre esteve lá
e eu não quis enxergar
para não deixar de amar
e ter que deixar você.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Encontro, Encanto e Engano

Vejo você e o tempo para.
Nunca sei ao certo se é o seu olhar
Ou o meu perdido no seu, que me transpassa.
Dançamos entre braços, pernas e cheiros.        
Falamos uma língua nossa, criada sem palavras
Um tempo sem horas, sem nada lá fora.
Perco-me em nós e você me acompanha.
E engana-se, engana-me, arranha-me a pele
Entra em mim, preenche-me,
Inverte a velha ordem.
Depois o alento saudoso da despedida anunciada
Tentativas vãs de prolongar até o sem fim o encontro.
Querer ser mais, tolos amantes,
Capazes de não perceber o por vir.
E mais uma vez adeus, até logo, eu sei, mas adeus.
Mais uma vez partir, partidos por dentro.
Mais uma vez perder, o que não deixamos de querer.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um Sem Tempo e Mais

Nu Com Gato (1948-50) - Balthus
Hoje já faz um tempo
desses que gostamos de contar
um tanto assim de dias
que não mostram o que de verdade há

Não nego o correr dos dias
só não vejo porquê em esperar
um calendário qualquer dizer
que hoje é dia de festejar

Gosto do sem tempo
um outro jeito de cantar
uma noite que não acaba
e eu não canso de tocar

O agora de toda hora
rir mesmo depois de chorar
levar você comigo
aonde quer que eu vá!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Seus Sons

Mulher com Guitarra - George Braque



palavra de voz forte
que me entra pelos ouvidos
percorre o corpo e escorre
toca-me a alma de maneiras tantas
instiga e encanta
faz-me querer mais
mais tempo com você
mais sonhos, um bebê
mais, e sem saber o porquê
querer bem maior que tudo
vontade de correr o mundo
só pra ficar do seu lado
enquanto a noite cresce
segurar você em mim
depois que amanhece,
saber-me em casa
julga-me tola ou coisa que o valha?
eu não sou metade, e só sei ser assim
quero-te plena, senhora e menina
cantando pra mim.
Poderia eu ser vã
e querer-te à toa
não pensar no amanhã
ficar só na hora boa
ser simples, rasa
quase ausente
mais corpo do que mente
deixar a alma guardada de você.
mas do que vale-me
ter o corpo, que é só parte de você,
se levo comigo seus sons,
seu verso, sua música,
um suspiro, gargalhada, seu bicho,
a vastidão que te povoa,
e um não sei o quê
de saudade da vontade que não me deixa?


No clima de um samba e "Metal Contra as Nuvens"
"E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar"

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Menininho

Sem Título CS 02 - Xilogravura - Carlos Scliar




menininho que me acalma
dono de porquês sem fim
é índio e rei castelos invisíveis
e ainda faz o jantar pra mim
rir das minhas histórias
me conta segredos de um Serafim
luta contra gatos selvagens 
em um, se transforma fácil assim!

menininho, fique esperto
e vê se cresce devagar
quero você pequenino
pra poder acalentar
mas você é apressado
e não vai me escutar
enquanto cresce, fique atento
e não se esqueça de sonhar

menininho, está na hora
triste hora de partir
faz as malas sem demora
mesmo não querendo ir
leva uma historia, uma bola,
patas novas e um livro de colorir
na guitarra a musica que aprendeu
deixando aqui, motivos pra sorrir

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Encontros

Panorâmica do Centro, vista da Cinelândia, final dos anos 20 -  foto de Botelho
Janeiro de um outro ano, centro do Rio
Um domingo de sol
Só eu e você
Seria um encontro real
Rico em possibilidades
Reticente e exclamado
Contrariando o ponto final anunciado
Deste nosso encontro atrasado
Faríamos tantos outros planos
E aqueles, ainda que por engano
Feitos hoje, lá seriam plenos
Será mesmo preciso um novo encontro?
Não será esse o nosso tempo?
Deixar-nos perder seja talvez o nosso maior engano
Ainda que esse não seja o nosso tempo, não é tempo de partir
Ao menos não em mim.

domingo, 16 de outubro de 2011

Entre as Mãos

Drawing hands-Escher

Não quero mais ter que esquecer
Não mais deixar ir
Virar páginas desse livro que
Sendo meu, ainda assim não me pertence
Maquiar o que não tem disfarce
Não enquanto eu tiver memória
Um corpo que lembra e chora
Por não ter como tocar
Não mais um mundo de ilusão
Sem escritos diários de sonho se esvaindo por entre os dedos.