sábado, 31 de dezembro de 2011

A Última Festa Do Ano

 A Dança - Henry Matisse
Datas comemorativas, dias de festa e feriados...
Todos cheios de simbolismos e significados.
Um dia marcado para sorrir ou para chora.
Com o peso de histórias há muito vividas,
e outras tanta por contar.
Não sou alheia ao calendário,
como Pessoa penso: "se calhar, tudo é simbolo..."*
E como tal, me junto á massa e faço graça.
Brindo ao ano que vai nascer,
levo meu pano de guardar confete,
e guardo silencio aos que já foram.
Mas não abro mão do maior tesouro,
que é ver nascer o novo, todo dia,
mesmo quando não é grande a alegria.
mesmo quando sol não está brilhando,
e não se tem muitos planos.
Raro é ver a magia do dia comum,
entre um e outro, também comuns.
Dias de infortúnios, e perdas,
que escondem também, grande beleza.
E o melhor disso tudo, é ainda ser parte.


*Psiquetipia (ou Psicotipia) - Fernando Pessoa 
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fernando-pessoa/psiquetipia-ou-psicotipia.php
    
Ouvindo: Feeling Good - Nina Simone


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Publique-se, Registre-se e Cumpra-se

Cena de Tribunal - Forain Jean

Pessoas que se conhecem há muito tempo
e já passaram toda a sorte de coisas juntas.
boas e ruins
compartilham erros e acertos,
e uma empatia além de qualquer explicação.
grupo de pessoas que divide
carga genética, afeto e afinidades
e mesmo desafetos.
questões tantas, que por vezes parecem irreversíveis,
e até os são.
o perdão pedindo passagem,
mas sempre impedido pela falta de verdade.
difícil não é perdoar, é ver sinceridade em quem pedi perdão.
e a vitima é vestida de falsidade,
o algoz de injustiçado.
a solução é bem simples:
assuma seus erros e os faça sob os olhares de todos!
porque nada apaga o mal feito,
tão pouco o fará ser esquecido.
nada pode mudar o passado,
mas só a verdade pode iluminar o futuro.


Publique-se, Registre-se e Cumpra-se.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mudar

  Duas Mulheres Taitianas - Paul Gauguin

O que tenho de mais precioso em mim é a capacidade de mudar.
Mudar de cabelo, de estilo de vida, de casa, de bairro, de cidade.
Mudar de idéia, sim mudar de idéia é de longe a coisa que mais gosto em mim.

Pensei ter decepcionado-me de modo irreversível,
só ai percebi, que meu amor é sim incondicional
e o sendo, não limita-se, e tão pouco respeita convenções de qualquer tipo.

Ai então. vi todo o encantamento inicial ser substituído pela real consciência do amor.
O objeto do meu apreço perdeu adereços desnecessários
e ganhou brilho de coisa real, de pessoa real.

Sem deixar de ser especial em suas particularidades. já não faz uso de adornos.
Sinto-me leve e o sinto mais leve também,
por apenas ser quem é, e ser o bastante.



Ouvindio: Macy Gray - Finally Made Me Happy

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Deixo

Odalisca - Henri Matisse

Umas das coisas mais difíceis que há é saber deixar ir.
Deixar ir a quem se ama, a quem se quer por perto.
Muitas são as forças que nos afastam do que nos é caro.
E não é claro o efeito da nossa vontade.
Soltar para ver o que é meu de fato,
Porque deixando ir, permito que fique,
E se ficar é meu.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Que Anda Em Mim

Composição VII - Wassily Kandinsky

luzes por toda parte
cores e formas me chamam a atenção
olho em volta e não vejo sentido
nisso de ser tão impulsivo
sei do mundo que me povoa
sei da vontade que me move
sei do preço que pago por ser quem sou
sei da alegria de saber quem eu sou
era uma vez, uma verdade que de tão simples houve quem duvidasse...
e ainda assim, lhe mostro o que anda em mim.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Movimento

 The Runners - Faith Bebbington
 http://www.runnercommission.blogspot.com/


forçar o movimento
olhar além das coisas
escolher o som que melhor pode impulsioná-la
movimentar-se ainda mais
passos largos, firmes e rápidos
compasso acelerado no peito
ar frio que entra, corre por dentro
e sai quente
suor escorrendo pelo rosto
de branco já vermelho
mente esvazia-se como por libertação
agora mais rápido e mais intenso
passadas ganham força
ir além dos limites pensados
sentir o corpo vivo e a alma leve
chegar ao fim do caminho sabendo
que ainda não é o fim
voltar a correr por não ver sentido algum em parar


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Nosso Tempo

Erótica VII - Gustav Klimt

tempo, dias que se seguem
acalentados pelo som da sua voz
que me invade a alma
e aquece o corpo
o riso farto, palavra, por vezes dura
mas sempre franca
olho que me olha como ninguém
você é aquela pra quem eu quero me mostrar
aquela com quem quero encontrar
um jeito único de viver e amar
maior que o tempo
além do correr dos dias

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Meu Caminho


Campo de Trigo com Ciprestes - Vincent Van Gogh
muito mais que só palavras
mais que planos soltos no vento
quero o caminho de pé no chão
de sorriso largo e sem lamentos
tenho força de dez exércitos
e a paz da terra ainda não vista
não mais querer o impossível
tocar o centro da terra e ainda poder voar
o leão caminha plácido na savana
é rei e também filhote
se de nada vale o suor derramado
fica o sabor de caminho trilhado
e do meu lado a certeza de que
não há o que me faça parar
não antes do fim da estrada
não antes de terminar a jornada.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Abraço Mais Querido

Abraço - Marcia Marostega

a tarde vazia que se arrasta,
pelos cantos da casa ainda mais vazia.
a falta de quem ainda não esteve por lá.
silêncio intimidando todo som.
vontade remexendo-a por dentro.
certeza de que a vida é mais,
é ruidosa, é movimentada.
com risos e vozes dançando alto pela sala.
que os dias tem cores outras,
e não é dela estar só.
vai à rua em busca do que lhe falta,
mas não vê graça no que encontra.
é certo e claro o que ela quer.
e nada além satisfaz seu desejo.
ela vai encontrar aquela
que trará a cor certa aos seus dias
ai então estará em casa
no abraço mais querido
da mulher que será sua.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Mise En Scene

Mise En Scene - Alain Barnole

É noite e ela entra em casa como quem já não tem aonde ir. A sala vazia lembra o quanto a mulher combina com sua a mobilha. A mulher que não é sua, deixa vazia a casa por não estar. Ela sente o vazio de dentro. Há coisas, e coisas pedem por serem feitas, tocadas, carecem do sentido que a utilidade tem. Ela se entrega às coisas. É madrugada e ela se perde no olhar da felina que acompanha sua inglória busca pela casa cheia, a mulher por ser sua, os sons, as palavras. Ela tenta dormir, mas sabe que não vai. Insones sentem a madrugada ganhar corpo como que por instinto.
A água fria e forte do banho acorda o corpo e a mente. Ela sente a pele esfriar aos poucos e lembra as coisas de mulher. Põe-se a cuidar-se, sente-se esperada. Lava os cabelos demoradamente. Cobre o corpo com espuma e gosta do cheiro suave que fica em sua pele. Enrolada pela toalha, fita seus olhos no espelho. Sente-se bonita, quer ser vista neste momento em que realmente está muito bonita. Seca os cabelos descuidada. Gosta do vento quente e dos fios voando. Sai nua e anda pela casa como se nada mais houvesse.
Serve-se de uma taça de vinho. Muito civilizado ter vinho como companheiro de insônia, ainda que seja terça-feira e a rotina diurna cobre atenção. Sentada ao pé da cama, ela alcança um livro qualquer jogado pelo quarto. Os livros, os textos, todos os escritos espalhados como as idéias, os sentimentos, sim os grandes sentimentos espalhados dentro dela, que agora lê e pinta as unhas de vermelho. As unhas vermelhas a lembram da mãe. Ela tem os dedos da mãe, os dedos e não as mãos da mãe. Sempre viu graça da forma com foi montada com pedaços tirados da mãe e do pai. Alguns de tão misturados, tornaram-se apenas dela, sendo impossível dizer à quem pertenceram antes.
A mulher não vem, ela sabe que ela não vem. Nem ao menos disse que viria, o que não a impediu de querer. Querendo viu a porta se abrir incontáveis vezes. Vai amanhecer e ela não quer ver amanhecer. Sentindo-se ainda muito bonita, deita-se nua e finalmente dorme.
A mulher acorda cedo, bem mais cedo do que costuma acordar e do que lhe é confortável. Ainda assim não se demora na cama. Pôs-se pronta rapidamente, dispensou o café da manhã e deixando a casa que já foi sua sente ainda alguma estranheza por ter outras chaves em suas mãos. Ainda tomando o suco que tirou distraída da geladeira, pensa que não há muito sentido no caminho que faz àquela hora da manhã. Mas há urgência no seu corpo. A mulher sabe do que precisa. Pensando nela, sente o corpo vivo. Pode ouvir-la recitando Pessoa, e o caminho é longo demais para o tamanho do que se move na mulher.
Para diante do portão, usa a chave que já lhe é familiar. Chave que ela lhe deu, sem saber ao certo o porquê, e a mulher aceitou por não duvidar dela. Abre a porta que a leva até a sala, a mulher gosta de entrar na casa ainda silenciosa. Descalça as sandálias, vai até a cozinha e serve-se de água. Volta à sala e tira toda a roupa, deixando a sobre o sofá. Pode ouvir-la dizendo que a mulher combina com sua mobilha.
Abre delicadamente a porta do quarto, para e põe-se a olhá-la longamente. Ela, dormindo de bruços, nua com a manhã entrando suave através das cortinas e pintando-a com luz e sombras. A mulher aproxima-se lentamente para não despertá-la. Tira o lençol que pretendia cobrir seu corpo, mas apenas o cruza desleixado. Ela se mexe, ainda dormindo, parece saber que a mulher está ali. A mulher entra nela sem palavras, ela a recebe sem palavras. Abre os olhos como quem não precisa abri-los e o faz apenas para dizer o que os lábios calam, mas eles, os olhos, gritam!
Gira o corpo para recebê a mulher de frente, aberta, e a encara com firmeza. Caladas declaram o amor assim como o tem amado. Um amor de bicho, sem razão, que vive no sem tempo de dentro, na hora parada do mundo de fora. Um amor que encontra eco, acolhimento, é forte e ainda assim se faz de pequeno para não assustar as amantes. A mulher sabe que é nela o seu lugar. Ela entende que ainda não sendo sua,  aquela mulher como olhos de menina, é seu desejo. No gozo acalmam a urgência, ela recebe o que vem da mulher como coisa sua, e em troca lhe dá o que vem dela. Misturadas, suadas, abraçadas, agora já encontram palavras. Falam de amor quase nada, contam segredos, medos. Planejam viagens, provam o mundo antes de saírem da cama. A água agora lava os corpos das amantes. O banho agora é cheio! Tocam-se enquanto trocam palavras soltas. Riem, e ela coloca a mesa para a mulher, ela faz o café e lembra-se de como a mulher combina com a mobília. A mulher não demora. Ela corta o pão em pedaços pequenos com a mão, um a um, a mulher o parte ao meio. A mulher usa açúcar, ela toma puro às vezes . Elas nem sempre se sentam nos mesmos lugares. A mulher sempre acha graça da miss and cene. Ela sempre faz a miss and cene. E elas lamentam juntas sabor das horas e do mundo lá fora.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Reencontro


Vista de Santa Teresa, Rio de  Janeiro - Arquivo Pessoal

Ela ouviu-o chegando, foi até a porta e antes de alcançá-la, viu-o ainda do lado de fora parado olhando-a. Não sabia como agir, a muito não viam-se e a estranheza era maior por não existir de fato. Parecia que haviam estado juntos até um instante antes. Se havia algo de estranho naquele encontro, era por estar ela na casa que sempre foi dele. E ele chegando, estrangeiro, a casa de seus anos anteriores. Abraçaram-se um tanto bobos, como que sem crer na verdade do que foi desejo em ambos por tanto tempo. Andaram tímidos pela casa, sentaram no sofá da sala e falaram amenidades, as mais difíceis amenidades que já haviam dito. Olhos que procuravam-se e mãos que tocavam-se acidentalmente. À pretexto de coisa alguma, ela levantou-se e foi até o quarto, deixou a porta aberta. Sentou-se diante do computador que é dele, e falou qualquer coisa que troxe-o até a porta.
Ele parou e olhá-a nos olhos. Deixou as mãos correrem pelos cabelos castanhos dela, sua pele muito branca, olhos pequenos e quase negros. A boca vermelha, agora ainda mais vermelha. Tudo ainda mais bonito do que ele era capaz de lembrar. Era real, quente e urgente diante dele. Ela surpreendeu-se com ele ali tão perto. Sentiu o cheiro dele muito mais forte do que havia sentido pela casa, e mesmo na cama na qual mal dormira na noite anterior. Quando ele tocou-a, ela sentiu frio na espinha. Levantou e beijou-o como havia feito em pensamento muitas vezes durante a separação.
Entre lábios, e línguas, e mãos, despiram-se e reconheceram-se nos corpos preparado para o encontro, disfarçado de almoço amigável entre pessoas que amaram-se. Entregaram-se com tamanha emoção, que escondiam um do outro, olhos mareados. Lágrimas que caiam discretas, sorrisos espantados e pensamento que insistiam em violar o silencio da cama. Calaram como que por acordo prévio. Se há o sem tempo, que agora este seja sem palavras.
Logo o amor pediu expressão, cederam falando das coisas de dois. Falaram de um sábado de Abril, uma quinta-feira de Janeiro, falaram do tempo feito de encontros e não de dias, em vontades e não horas. Contaram coisas do tempo que ficaram longe. Saudades, acidentes, desejos, e medos. Riram de suas histórias, engoliram o choro de suas dores. E amaram-se mais. Admitindo a certeza de que naquele encontro seriam novamente os amantes de antes, acharam graça das suas duvidas e chegou à noite e ele não partiu.
Seguiam dançando, falando, beijando, e falando, e dançando. Madruga na varanda viam as luzes de duas cidades e uma baia. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Desencontro


Françoise Gilot - Pablo Picasso

como se fazer entender,
quando tudo que se faz ou fala
parece tomar forma outra
que não aquela que
aqueceu o peito no momento em que foi sentido?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Admirar é Amar

Amar é admirar. Não concebo o amor longe da admiração. De certo a razão da admiração muitas vezes não é fácil. Já questionei muitas vezes meus amores pela vida a fora. Ainda me vejo pensando o quão incondicional pode ser um amor. Mas vejo repetidas vezes à incondicionalidade do amor em xeque pela simples falta do admirar ou o fim do mesmo.
Enquanto amo, cobro pouco. Como se o que vier gratuitamente tivesse valor maior ante o exigido. Penso perder coisas nesse caminho, mas é certo ter o que se ganhou por ser genuíno.
Tenho a triste clareza de perder o amor que havia em mim no instante da não admiração por aquele que chamei amado. É um instante mais que um processo. Como chegar ao fim de um download. Cai a ficha e tudo muda. Dar-se conta é mágico. O momento do entendimento. E tudo não é mais como era antes. E fica o que restou do amor, talvez mais pelo amor que foi sentido que pelo amado de fato. Um não-sei-que nostálgico do bem que se quis, dos planos que se fez, de todas as possibilidades que se teve.