terça-feira, 27 de abril de 2010

Do Que Eu Gosto


Cascatinha da Tijuca - Nicholas-Antoine Taunay
Não gosto quando saio à tarde,
e é sábado de sol,
e sei que é sábado de sol na sua casa,
que é logo ali,
mas como todo o resto das coisas que são suas,
é tão distante de mim quanto você é distante de mim nesse sábado de sol,
e nos outros dias da semana,
mesmo os que não têm sol.

Eu gosto dos dias de chuva,
eu caminho sem pressa nos dias de chuva,
e nas noites de chuva também.
Eu recebo toda água que cai do céu,
me banho de toda água que cai do céu.
Chuva é coisa muito minha
e não penso se chove na sua casa também,
sei que não há por lá quem dance na chuva.
Eu danço na chuva.

Eu gosto do cheiro do mato em dias claros,
do cheiro que levanta da terra
que piso quando ando no mato em dias claros.
Gosto do mato tocando a minha pele enquanto ando por caminhos estreitos
e olho para cima e vejo as copas densas das altas arvores
e os pedaços de céu entre as folhas.

Eu gosto do som da noite chegando,
o ar mais fresco e o escuro chegando à floresta.
Por vezes espero o ultimo risco de luz ir antes de sair da floresta.
Eu não tenho medo das coisas da floresta ou de fora dela.

Eu gosto da água do rio,
da água gelada do rio que vem do alto da montanha
e já foi fonte e cachoeira e agora é rio.

Gosto das pedras do rio,
pedras nas quais me sento e me deixo molhar pela água que,
quando deixar de ser rio vai ser chuva outra vez
e depois de cair feito tempestade enfeitada de relâmpagos
- para você ver da janela da sua casa que é logo ali,
vai dar lugar a mais um dia de sol.

domingo, 25 de abril de 2010

Olho de Gato

Penélope - Arquivo Pessoal Ursula Gomes

Olho de gato quando olha, invade a alma da gente.
Metafísica quântica num bichano.
Fico eu, hipnotizada, presa no olhar da minha gata.
Ela fala coisas do mundo, e de um tanto de mundos outros.
Fala de mim.
Me mostra segredos que não conto.
Só para quem tem quatro patas, ou me olha a alma.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Things

Caledoscópio - Agnaldo Silva

There are a lot of things
That I can't understand
Things about love and people and us
When I saw you, I decide
Don't be afraid.
I put me in risk.
But I really don't care
Because I feel so great senses
That I can't be different
Just me,
Nude, clear, pure, cheerful
In these days I've been working a lot
I've been think a lot
I've been felling a lot
I guess it's just a phase
I guess I'll be good
'cause it's just a phase.
I still sigh for you.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dos Tropeços


Autor Desconhecido

Dos tropeços que damos diariamente há aqueles que nos tiram não mais que algum bom palavrão. Mas, há aquele que nos tira o ar e nos enche os olhos de lagrimas. De fato não choramos, não ali na rua aos olhos de todos. Choramos por dentro, enquanto mancamos um bocado tentando não nos render a coisa infantil de dentro que grita e não nos jogarmos ao chão fazendo a cena mais ridícula, justificando assim nossa dor. Somos crescidos, não esperneamos mais. Agora refletimos sobre os acontecimentos e nominamos nossos sentimentos, os justificamos sim e os domamos como seres civilizados que somos. Há sempre que se levar em conta o melhor a fazer, o melhor momento de falar, a melhor coisas a dizer. Assim, civilizados ao extremo perdemos o instinto. Aquilo que nos une as coisas da terra, aos bichos que insistimos em não ser. Como ter paz em tempos de guerra? Como desamar quando o bom senso nos diz ser tempo de desamor? O que fazer com o mundo lá fora quando o tempo aqui dentro para? Tudo para, até o tempo do mundo de dentro da gente para. Tropeço muito, dizem-me que para cair eu não pago imposto. De certo caio porque sei levantar. Sei sem ciência, por instinto mesmo. Eu ainda sou bicho, sou índia anciã, um não sei que de sabida e sem nunca perder o espanto ante as coisas dos mundos. Mais me surpreende a vastidão do mundo de dentro de mim que todo o mundo de fora. Muito me encanta o dentro do outro. Mesmo sabendo que se o meu dentro já me é mistério o dentro do outro é o inatingível. E eu insisto, estou sempre olhando fundo nos olhos, tentando ver mais que a minha imagem refletida no outro. Pergunto demais, falo demais, eu sou demasiada. Muitas pessoas passam a vida tentando deixar de ser coadjuvantes de suas histórias pessoais, elas lutam pelo papel principal. Vejo-me como roteirista da minha história. Não é uma obra fechada, eu sei, há que se lidar com os improvisos de certos atores, seus cacos não anunciados. Constantemente revisando minhas cenas, e estranhamente já tendo um final. Não há nada de previsível em uma vida da qual se sabe o fim. O meio é o que realmente conta. Os sonhos que tenho mudam de tamanho quando volto para a casa à noite, e esse não é bem o fim que escrevi para esse capitulo. É quando me lembro do fim dessa história, e que as cenas seguintes são oportunidades para tornar tudo um tanto mais real. Quando não, faço cena, preparo-me uma bebida, arrumo o cenário e me conto histórias de coisas boas, belas e amadas.