domingo, 30 de outubro de 2011

Vontade

Danae - Tiziano Vecellio
das vontades que tenho agora,
as mais simples gritão mais alto
você à mesa enquanto eu termino o jantar
falando alto na hora do jogo
rindo feito criança de uma besteira qualquer...
só a vontade de você não cala!



sábado, 29 de outubro de 2011

Um Dia Sem Você

Beach in Pourville - Claude Monet


silêncio não seria problema depois do que foi dito,
outras palavras tornam-se desnecessárias
os olhos brilham, o sorriso fez-se frouxo
o dia ocupou-se de coisas
e ela pareceu-lhe presente no seguir das horas
lembrou-se de um verso:
*"I carry your heart with me"
repetiu-o baixinho algumas vezes
palavras de aquietar o coração
mas este estava aos saltos
feliz e cheio de vontades
quis subir ao topo do mundo
sentiu mesmo que podia fazê-lo
optou por fazer coisas suas
foi à rua, moveu-se intensamente
voltando à casa, esperou por ela.


*E.E. Cummings - I Carry Your Heart With Me
 Sentindo:
"Outrora eu fui tua princesa e amámo-nos com um amor de outra espécie." Fernando Pessoa

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ao Amor, Assim Como Eu o Tenho Amado

Noite Estrelada - Vincet Van Gogh
Esse que chegou-me sem alarde.
Vestido de mistérios e sons,
entrou-me pelos ouvidos,
e invadiu-me a alma.
Inquietude e alento.
Tímida certeza, que cala os lábios,
é verborrágica e latente no dentro de mim.
Visão dos meus desejos
a quem não quero deixar ir.
Porque, para além de qualquer fato ou estado,
é coisa rara e cara.
My inner vision.
Meu segredo, meu grito de exaltação,
da noite dividida, do tempo que é agora.
-Palavra forte que toma-me,
ouça o que grita o meu silêncio!
Calada, falo do amor, que não cabe em palavras,
e assim, deixou-me em estado de graça.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dar-se Conta


Ipanema - Foto Adriana Schimit Lindner

Dar-se conta é algo que sempre encantou-a. Exceto quando dava-se conta de algo maior que ela mesma. Nas tardes de sol saía à rua e misturava-se as pessoas do mundo. Cores e sons que povoavam sua mente mas não eram capazes de silenciar sua alma. E a alma falava de tanto querer que era difícil ver o que o mundo lhe mostrava.
Os caminhos sempre a levavam à beira. Ela parava na borda do mundo e reconfortava-se com a amplitude do mar a sua frente. De todos os lugares visitados, aqueles em que demorou-se mais um bocado, e nos quais pensou em ficar, sempre pensava na borda do mundo. Ela entendia melhor o mundo à beira do mar.
Um dia como outro qualquer, o sol na cidade mais bonita. Andando pela rua sentia-se perdia em si, mas ainda assim em casa. Sentindo-se povoada por feixes de contradições. Chegou até a praia e teve vontades múltiplas. Quis ficar, deixar o dia acabar ali. Quis correr, cansar o corpo, suar seus dilemas. Quis voltar à casa e encontrar abraços.
Pisou a areia ainda quente, e foi até a beira da água. Deixou molhar os pés e ouviu o barulho das ondas. Entendeu que amor é como mar, e querer é feito maré. Sem explicar e deixou-se inundar pelo gostar que invadia-lhe a alma. Deu-se conta e pode dormir, ouvindo o mar quebrar no seu travesseiro, na respiração compassada, da razão de suas inqueitudes.


Sentindo Coralina:
"Coração é terra que ninguém vê- diz o ditado"'

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Inverno

Mulher a Janela - Claudio Tozzi
Você que é feita de vento e mar
deixa-me sempre e de novo
O inverno é hoje porque
É eterno o seu dia de partir
E partiu-me a cara, e todo o resto
Em tantas partes que ainda junto os cacos
Tentando entender isso de viver sem você
Parece que foi ontem e já faz tento tempo...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

História Que Não Nasceu

La Vie Et La Mort du Peuple - Gerard Fromanger
http://www.artrealite.com/gerardfromanger.htm 

De tudo o que lhe dei,
meu corpo, meu alento,
meu desejo, minha devoção,
minha perversão, admiração,
minhas palavras mesmo as caladas,
meu cuidado, o meu amor.
De tudo que lhe dei
o que havia de maior valor você maculou.
Eu lhe dei minha verdade.
Eu lhe dei pouso no meu peito
que nada mais pediu além
daquilo que não precisa ser pedido
a quem profere palavras de amor.
Ainda assim, repetidas vezes perdoei-o.
E vi vulgarizar-se em seus lábios
o pedido por perdão.
Ainda assim eu perdoo-o,
não por nobreza ou coisa que valha,
sim pela clareza do amor que tenho em mim.
Não alimento rancores,
apenas o saudosismo daquele que enterra um sonho,
ou perdeu um filho que não nasceu.
A nossa história é uma linda história
que não nasceu.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Amor e Outras Questões

O Lago - Tarsila do Amaral
O que faz com que alguém não se perdoe é a grande razão dos desencontros. Pessoas se cruzam o tempo todo, e ainda assim, parece que elas não se veem verdadeiramente. E o que verdadeiramente seriam elas?
Digo, somos todos seres mutáveis, e como tal não há razão para constância nas atitudes, em situações que mesmo semelhantes, são sempre outras. É o que faz com que cometamos equívocos distintos, ainda que causadores de sentimentos muito próximos.
A capacidade de perdoar o outro é supervalorizada diante da capacidade de perdoar a si mesmo, e consequentemente aceitar o perdão. A culpa é maior e mais pesada para aquele que erra. E como agente causador da dor, esse sim carrega o peso da não aceitação e incompreensão do perdão.
É triste ver histórias interrompidas, pela incapacidade de ver como sentimentos mais intensos podem estar livres de convenções e posse. O que pode ser mais importante do que o gostar puro e simples?
“Unconditional Love” é só um filme, mais que isso, me caiu como uma verdade. Amamos porque amamos, não por qualquer outra razão.
Não defendo a continuidade de relações falidas. Defendo a clareza e a coragem de reconhecer o Amor, a despeito de convenções.
Agimos dentro do socialmente aceito, que nos diz até onde podemos amar. Proponho uma medida única e individual, onde o que conta é o quanto o amor nos é caro, independendo tudo que não é amor.
Assim, quando o fim se anunciou, ela o recusou. Não por medo da dor, mas por entender que para além da dor e ainda maior que a mesma havia o amor, até então indizível. Amor que cresceu na pureza e sem relógio, que não temia e tão pouco cria no tempo.
Seria ótimo poder marcar uma data para conhecer alguém. Um dia, entre os nossos passados. E ainda que não seja possível, nós nos encontramos, nos reconhecemos. E todo o resto perdeu o sentido frente ao momento em que falamos sem palavras. Um encontro marcado, mas se nós podemos fazer nosso tempo, porque esperar o tempo do mundo?
A perda foi mais dolorosa que o previsto, e surpreendentemente a aceitação de que coisas fogem ao seu controle e que minimamente o autocontrole não pode lhe escapar, ainda que não por completo, fez com que os dias seguissem e ela seguisse a vida.


Pensando: “O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus" - Oswald de Andrade

sábado, 22 de outubro de 2011

Segredo

 O Segredo - Miza Pintor
Tenho para você um segredo
desses gostosos de contar
seu riso me enche a alma
me dá vontade de cantar
te vejo de longe,
se chegando devagar
digo: não tenha pressa
é bom ver você se aproximar
ás vezes me assusto
por você de repente parar
ai respiro fundo e penso:
na hora certa ela vai chegar
afinal o que eu espero?
um longo tempo de amar.

Amei

Mulher e o Gato - Di Cavalcanti
amei você,
em muitos momentos
amei você,
de muitas maneiras,
amei você.
umas tortas
outras novas
amei você
e amando
dei-me,
abri-me
joguei-me...
achei tal sorte
de alegrias tolas
que me vesti delas
e ri,
e dancei,
e sonhei...
até que vi
o que sempre esteve lá
e eu não quis enxergar
para não deixar de amar
e ter que deixar você.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Encontro, Encanto e Engano

Vejo você e o tempo para.
Nunca sei ao certo se é o seu olhar
Ou o meu perdido no seu, que me transpassa.
Dançamos entre braços, pernas e cheiros.        
Falamos uma língua nossa, criada sem palavras
Um tempo sem horas, sem nada lá fora.
Perco-me em nós e você me acompanha.
E engana-se, engana-me, arranha-me a pele
Entra em mim, preenche-me,
Inverte a velha ordem.
Depois o alento saudoso da despedida anunciada
Tentativas vãs de prolongar até o sem fim o encontro.
Querer ser mais, tolos amantes,
Capazes de não perceber o por vir.
E mais uma vez adeus, até logo, eu sei, mas adeus.
Mais uma vez partir, partidos por dentro.
Mais uma vez perder, o que não deixamos de querer.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um Sem Tempo e Mais

Nu Com Gato (1948-50) - Balthus
Hoje já faz um tempo
desses que gostamos de contar
um tanto assim de dias
que não mostram o que de verdade há

Não nego o correr dos dias
só não vejo porquê em esperar
um calendário qualquer dizer
que hoje é dia de festejar

Gosto do sem tempo
um outro jeito de cantar
uma noite que não acaba
e eu não canso de tocar

O agora de toda hora
rir mesmo depois de chorar
levar você comigo
aonde quer que eu vá!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Seus Sons

Mulher com Guitarra - George Braque



palavra de voz forte
que me entra pelos ouvidos
percorre o corpo e escorre
toca-me a alma de maneiras tantas
instiga e encanta
faz-me querer mais
mais tempo com você
mais sonhos, um bebê
mais, e sem saber o porquê
querer bem maior que tudo
vontade de correr o mundo
só pra ficar do seu lado
enquanto a noite cresce
segurar você em mim
depois que amanhece,
saber-me em casa
julga-me tola ou coisa que o valha?
eu não sou metade, e só sei ser assim
quero-te plena, senhora e menina
cantando pra mim.
Poderia eu ser vã
e querer-te à toa
não pensar no amanhã
ficar só na hora boa
ser simples, rasa
quase ausente
mais corpo do que mente
deixar a alma guardada de você.
mas do que vale-me
ter o corpo, que é só parte de você,
se levo comigo seus sons,
seu verso, sua música,
um suspiro, gargalhada, seu bicho,
a vastidão que te povoa,
e um não sei o quê
de saudade da vontade que não me deixa?


No clima de um samba e "Metal Contra as Nuvens"
"E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar"

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Menininho

Sem Título CS 02 - Xilogravura - Carlos Scliar




menininho que me acalma
dono de porquês sem fim
é índio e rei castelos invisíveis
e ainda faz o jantar pra mim
rir das minhas histórias
me conta segredos de um Serafim
luta contra gatos selvagens 
em um, se transforma fácil assim!

menininho, fique esperto
e vê se cresce devagar
quero você pequenino
pra poder acalentar
mas você é apressado
e não vai me escutar
enquanto cresce, fique atento
e não se esqueça de sonhar

menininho, está na hora
triste hora de partir
faz as malas sem demora
mesmo não querendo ir
leva uma historia, uma bola,
patas novas e um livro de colorir
na guitarra a musica que aprendeu
deixando aqui, motivos pra sorrir

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Encontros

Panorâmica do Centro, vista da Cinelândia, final dos anos 20 -  foto de Botelho
Janeiro de um outro ano, centro do Rio
Um domingo de sol
Só eu e você
Seria um encontro real
Rico em possibilidades
Reticente e exclamado
Contrariando o ponto final anunciado
Deste nosso encontro atrasado
Faríamos tantos outros planos
E aqueles, ainda que por engano
Feitos hoje, lá seriam plenos
Será mesmo preciso um novo encontro?
Não será esse o nosso tempo?
Deixar-nos perder seja talvez o nosso maior engano
Ainda que esse não seja o nosso tempo, não é tempo de partir
Ao menos não em mim.

domingo, 16 de outubro de 2011

Entre as Mãos

Drawing hands-Escher

Não quero mais ter que esquecer
Não mais deixar ir
Virar páginas desse livro que
Sendo meu, ainda assim não me pertence
Maquiar o que não tem disfarce
Não enquanto eu tiver memória
Um corpo que lembra e chora
Por não ter como tocar
Não mais um mundo de ilusão
Sem escritos diários de sonho se esvaindo por entre os dedos.

sábado, 15 de outubro de 2011

Verdades

“A arte evoca o mistério sem o qual o mundo não existiria”, René Magritte


O futuro de um homem é o seu caráter.
Repetida inúmeras vezes a frase ia de sentença à alento. 
Nunca temeu o futuro de fato,
Quando receou foi por pensar no que haveria entre o agora e o tal futuro tão distante.
A verdade esteve lá na maior parte do tempo.
Quando não, lamentou.
Não que ser bom e honesto fossem garantias de um céu no futuro,
E sim por ter aprendido com seus passos tortos,
Que a tão exaltada verdade trazia em si uma simplicidade sábia.
Com o tempo reconheceu em si alguma sabedoria,
Daquelas que não se encontra de outro modo
Que não, a atenta observação de si e dos outros.
Isto fez com que o medo perdesse espaço para algo ainda não nomeado.
Ainda sobre a verdade, sempre achou de mal tom subestimar a inteligência dos outros.
 Tinha tanta facilidade em fazer-se de tolo que diante de um,
Duvidava sempre.
Sentia-se constrangida quando o mundo lhe mostrava mentiras vãs.
À troco de que contar-me suas meio verdades?
Só para logo adiante fazer-me ver o embuste?
Para que gastar tanta energia quando uma curta verdade,
Nem tão dura nem tão doce teria melhor efeito?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Momentos

Banhistas na margem de um rio - Matisse


Há uma doce beleza em presságios.
Fazem-me lembrar:
"às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito".
De tudo que vi e vivi, só sei o que aprendi.
E quanto ao instante, digo apenas que o meu é tão breve,
Que já é outro mas, atenho-me a percebê-lo,
Como quem se vê no espelho.
Quanto ao tempo, o instante...
Olha! Já é outro!
E para ver há que se ter qualquer coisa além de olhos,
Quase como ouvir estrelas.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Janelas

Muchacha en La Ventana - Salvador Dali


Andei perdida em mim.
Como quem perde-se em desertos de sua própria alma
Já não atrevo-me a usar qualquer palavra vã
Mesmo que a palavra seja minha
Vejo o mundo por janelas que eu mesma escolhi,
Ainda tento pulá-las e
Chegar mais e mais perto deste mundo
Que me causa estranheza e encantamento
E pedem-me mais humanidade,
Como se existir por si só não bastasse
Olhando um tanto mais de perto, o que há de humanidade nisto?
-Deixem sobre a mesa uma listra.
Uma lista completa de sentimentos
Quero o bom e o mau,
Se calhar, acabo por entender o que há de humano em mim.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

À Beira Dela

 Arquivo Pessoal - Ursula Gomes

o sol lambendo minha pele,
olhar solto no mar,
vento que trás a lembrança de você pra mim.
é musica e ondas o que entra pelos meus ouvidos,
é também você que vem de longe
e por pouco não me alcança
espuma que na areia dança
indo e vindo num sem fim
como você em mim
por toda a noite,
por toda a vida.
sinfonia de vontades e entregas.
tarde que segue lenta,
sol que não quer ir embora
esquenta meu corpo de fora pra dentro,
que é oposto do que você me faz,
me acordando por dentro,
me remexendo as entranhas
até sair pelos poros,
boca,
olhos,
sai de mim levando junto mais que suspiros e gemidos,
leva um tanto da minha alma contigo.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Menina Má?

 
Diabinha




Estou entre o ser e o não ser.
Eu queria ser má (Dói menos!),
Mas eu não consigo.
Estou sempre tropeçando em alguma coisa,
Falhando no caminho.
E essas tentativas acabam por
Impedir-me ser boa também.
Bondade requer virtude,
E não existem virtudes nos atos de maldade.
Sigo à beira, à margem.
Nem lá, nem cá.
Queria, uma vez ao menos,
Ser acometida por esses instintos que tomam os sádicos.
Abater
Rebaixar
Desdenhar
Fazer tudo, o tempo todo.
Sem que nenhum bom instinto,
Desses que ainda teimam em atormentar-me,
Fizesse-me voltar atrás.
Pisar ou não pisar? eis a questão...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Palco de Mudanças


Palco do Tetro Municipal do Rio de Janeiro - Rafaella Schumann
Sei que estou em mutação, e como não estaria?
Gente muda, se não muda é porque finge.
Abafa a mudança, para não ter trabalho de lidar com o novo.
E surpreende-me o estranhamento, que essas mudanças causam.
Como se não fosse natural, à toda gente, mudar seu caminho. E é, não é?
E o que fazer com o que ficou?
Eu deixo entrar pela pele, olhos, boca.
Deglutindo tudo, digerindo tudo,
Expelindo o que não serve-me mais.
Alimentando-me do mundo.
Libertando-me do mesmo.
Libertando-me da mesmice, da repetição.
E não confundam isso com a rotina, nada contra a rotina!
Uma coisa ou outra, contra aqueles que,
Perdem-se em frustrações.
Quero uma coisa à toa,
Um sonho sem roteiro final.
Uma ode à improvisação.
O que é a vida senão um ensaio aberto?
Pois bem, eu subo no palco!
Não faço-me de rogada.
Sei meu personagem de forma stanislaviskiana.
De dentro, da motivação.
Sinto o meu pulsar.
E abrem-se as cortinas.

domingo, 9 de outubro de 2011

Saudades


Saudade é coisa que me enche a alma
Saudade boa, do tipo que vem até às bordas dos olhos
Mas não machuca o coração
Muitas são as formas de dizer adeus
Sou grata por ter dito da maneira mais bonita
Com um sorriso plácido nos lábios e a certeza do reencontro marcado
Quando cheguei aqui, você me recebeu com o sorriso mais bonito que já vi
Neste dia prometi, que na hora de sua partida, retribuiria o alento
Em tempos de outras despedidas, nem sempre minhas,
Lembro muito de você e do nosso segredo confiado no olhar
Acordo de palavras não ditas, e ainda assim tão claras
Das quais nunca pude duvidar
Hoje revisito caminhos seus, alguns deles também meus
Como quem olha um álbum de fotos antigas
Vejo você tão cheia de cores e sons, por essas ruas,
Que por um instante posso pressentir sua chegada
Mas a hora marcada não é agora,
Tão pouco esse nosso lugar de reencontro
Espere por mim querida
Que por você escrevo e canto.

sábado, 8 de outubro de 2011

Quando Ela Dorme

mairuschka-xilogravura sobre papel - Federico de Aquino 


Você, que é tornado
Quando dorme se faz brisa
Você, grande e forte
No sono, é menina
Velando você,
A noite segue suave
Ainda que antes fosse
Festa e tempestade
Levo comigo seus sons mais íntimos
Na sua ausência, me preenchem os silêncios
Quero você, palavras e toques
E mais silêncio...
Porque só assim,
Quieta perto de mim
Você vai entender o que olhos não calam.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Inquietudes

Inquietudes - Rita Ventura 
http://ritaventura.wordpress.com/avis-rara-2011/ 


"meu pensamento ficou ai com você, mas não se apresse em devolver... dorme em paz e se esta faltar, avisa que mando mais". U.G.H.

Inquieta como poucos, ela já não cabe em casa.
Acorda cedo e o dia azul parece ainda mais azul.
Nada demais, ela só quer andar, olhar as pessoas e as coisas.
Anda por ruas que não conhece muito bem,
faz mapas metais dos seus passos,
mas sabe que estes vão sumir da memória em pouco tempo.
Cansa o corpo para aquietar a alma.
Mas nem sempre é possível.
A alma tem força tamanha que não se deixa vencer.
Volta á casa e se ocupa de coisa à toa,
banalidades que a distraem por um quarto de hora, nada mais.
A tarde cai, a noite vem ainda quente e ela volta á rua, busca o novo.
No bar, na praça, no cinema, o cenário é detalhe menor.
Por vezes cruza o olhar com outro olhar que passa,
e num instante imagina a vida por trás daquele olho.
E se visse seu próprio olhar passando ao lado, que tipo de histórias imaginaria?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sem Palavras

Varanda - Echer
http://www.mcescher.com/ 

Hoje eu sou sem palavras
Calo toda voz, e a minha também
Quero a varanda e o além dos olhos
Sem conforto ou coisa que o valha
Quero apenas sentir você junto à mim
Deixar cantar o acalanto e a noite cair

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Entre o Querer e o Gosto

  O dia se tornando noite, gravura de Sheila Wolk
http://cronicasdaregina2.blogspot.com/2010/07/je-vois-des-anges.html 


Quero você como quem quer se encontrar
Quero você como se me faltasse o ar
Quero você mas não quero ter que ganhar
Quero você e que você queira ficar

Gosto do som da sua voz e mais
Gosto da calma que ela me traz
Gosto do que ao meu corpo faz
Gosto de depois dormir em paz

Entre o querer e o gosto
Deixo solto o pensamento
Que me leva noite à dentro

Misto de desejo e sonho
Entregue num caminho outro
Cantando um sentido novo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Mudanças

Gravura - Rosana Pascale


As coisas mudam tão rápido que
Olhos desatentos, ao se verem refletidos
no espelho, pela manhã
Julgam-se ainda os mesmos.


Eu já mudei, agora mesmo, foi só um instante e tudo mudou. Eu mudei de um jeito estranho. Mudei cantando como quem anuncia a primavera. Ainda assim, há em mim um tanto de que fui. Vou construindo um mundo a partir de mim. Há um mundo em mim. Nesse mundo de dentro vejo lembranças e sonhos, material orgânico que molda-me. Tira-me, a cada dia, mais uma máscara. Mostra-me a outra face, e depois mais uma e outras tantas, que chego a duvidar de suas formas. Então toma-me de assalto, esse infinito de dentro, que corrói e alimenta o que é tido como Eu. Havia um tempo sem horas, onde se podia ser qualquer coisa além de coisas a fazer. Esse era um bom tempo.



"Às vezes encontro você em meio à sonhos.
Às vezes fujo de você, tento esquecer." U. G. H.