sábado, 10 de dezembro de 2011

Reencontro


Vista de Santa Teresa, Rio de  Janeiro - Arquivo Pessoal

Ela ouviu-o chegando, foi até a porta e antes de alcançá-la, viu-o ainda do lado de fora parado olhando-a. Não sabia como agir, a muito não viam-se e a estranheza era maior por não existir de fato. Parecia que haviam estado juntos até um instante antes. Se havia algo de estranho naquele encontro, era por estar ela na casa que sempre foi dele. E ele chegando, estrangeiro, a casa de seus anos anteriores. Abraçaram-se um tanto bobos, como que sem crer na verdade do que foi desejo em ambos por tanto tempo. Andaram tímidos pela casa, sentaram no sofá da sala e falaram amenidades, as mais difíceis amenidades que já haviam dito. Olhos que procuravam-se e mãos que tocavam-se acidentalmente. À pretexto de coisa alguma, ela levantou-se e foi até o quarto, deixou a porta aberta. Sentou-se diante do computador que é dele, e falou qualquer coisa que troxe-o até a porta.
Ele parou e olhá-a nos olhos. Deixou as mãos correrem pelos cabelos castanhos dela, sua pele muito branca, olhos pequenos e quase negros. A boca vermelha, agora ainda mais vermelha. Tudo ainda mais bonito do que ele era capaz de lembrar. Era real, quente e urgente diante dele. Ela surpreendeu-se com ele ali tão perto. Sentiu o cheiro dele muito mais forte do que havia sentido pela casa, e mesmo na cama na qual mal dormira na noite anterior. Quando ele tocou-a, ela sentiu frio na espinha. Levantou e beijou-o como havia feito em pensamento muitas vezes durante a separação.
Entre lábios, e línguas, e mãos, despiram-se e reconheceram-se nos corpos preparado para o encontro, disfarçado de almoço amigável entre pessoas que amaram-se. Entregaram-se com tamanha emoção, que escondiam um do outro, olhos mareados. Lágrimas que caiam discretas, sorrisos espantados e pensamento que insistiam em violar o silencio da cama. Calaram como que por acordo prévio. Se há o sem tempo, que agora este seja sem palavras.
Logo o amor pediu expressão, cederam falando das coisas de dois. Falaram de um sábado de Abril, uma quinta-feira de Janeiro, falaram do tempo feito de encontros e não de dias, em vontades e não horas. Contaram coisas do tempo que ficaram longe. Saudades, acidentes, desejos, e medos. Riram de suas histórias, engoliram o choro de suas dores. E amaram-se mais. Admitindo a certeza de que naquele encontro seriam novamente os amantes de antes, acharam graça das suas duvidas e chegou à noite e ele não partiu.
Seguiam dançando, falando, beijando, e falando, e dançando. Madruga na varanda viam as luzes de duas cidades e uma baia. 

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