segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Na Floresta

Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro - Arquivo Pessoal 


Na floresta gosto de segui-la,
Assim ela mostra o caminho.
Falamos enquanto caminhamos,
Observamos cada pequeno detalhe do caminho,
Por vezes calamos.
Gosto de vê-la andando,
Gosto de sentir-me desafiada,
Do corpo em contato com a terra e
Todos os cheiros do mato.
É mais um de meus feixes de contradições,
Não sigo roteiros e
Crio minhas regras.
Sou atenta ao que ela diz,
Aprendo de olhar.
Entramos em uma trilha muito fechada,
Há muito não usada.
Ela diz que o fim compensa o caminho.
Não duvido.
Chegamos ao topo, uma pequena clareira e um precipício.
Lá embaixo a cidade.
Perco-me admirando a vista,
Viro e ela já está nua.
Gosto de vê-la nua,
Mais ainda num cenário tão especial.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Defeitos

 Carnaval de Alerquim - Miró


seus defeitos?
no começo não os percebi,
depois não os julguei relevantes.
agora você já não é importante.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Uma Fase

 Mulher Só - Telma L. Moreira


muitas coisas
Que eu não consigo entender
Coisas sobre o amor e as pessoas e nós
Quando eu vi você, eu decidi

Não ter medo.
Coloquei-me em risco.
Mas eu realmente não me importo
Porque eu sinto sentimentos tão bons
Que eu não posso ser diferente
Só eu
Nua, clara, pura, alegre
Nestes dias eu tenho trabalhado muito
Eu tenho pensado muito
Eu tenho sentindo muito
Eu acho que não é apenas uma fase
Acho que vai ser bom
Porque não é apenas uma fase.
Eu ainda suspiro por você.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Doce Alegria

Cabeça de Mulher (La Scapigliata) - Leonardo Da Vince


Como posso alegrar-me do seu pesar
ainda que eu sinta que tudo isso vai passar?
Como posso ser hoje a sua alegria
com tantas feridas que curar eu gostaria?
Minha doce alegria, 
tenho com você os sonhos mais lindos.
E uma calma que nunca foi minha,
coisa que invade-me agora e
mostra-me o valor de esperar.
Não tenho certezas, não sou vidente.
Trago em mim apenas,
o bem querer maior do mundo,
e um desejo profundo...
desejo de você.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Apenas Somos


Dois nus de pé - Foto: Louis Daguerre



Se vosse você meu oposto,
eu teria gosto em ver você sorrir.
Se vosse você meu oposto,
eu pensaria de novo o meu jeito de seguir.
Se vosse você meu oposto,
eu veria possibilidades na forma de sentir.
Mas não se trata de opostos ou iguais,
as diferenças não são grandes demais.
Apenas somos e fim.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Solidão Rodriguiana




A solidão rodriguiana, desta eu já ouvi falar. Li à respeito em visceral entrevista dada à Clarice Lispector. Ouvi da boca de uma amiga, e senti com ela um pouco deste gosto estranho.
Com tudo, tive maior dissabor ao provar com intensidade descomunal a solidão entre amigos. Não amigos de qualquer nota, mas aqueles de toda a vida, de todo dia. E de repente, eu ali perguntando-me o que fazia com aquelas pessoas, como se já não as conhecesse mais. Um jeito estranho de ver-se mudar, pois muda o seu olhar para o outro. Não é o outro que muda. E, se muda, não é relevante, o que vale é o olhar para o outro.
E isso eu pude ver, com penar na alma e uma melancólica alegria, que mudou. Pensei estar afastando-me das pessoas que são-me caras. Não,  estou em busca do que realmente é importante em mim, e ai sim saber reconhecer no outro o que falta-me, completa-me, instiga-me, encanta-me, faz-me querer o outro por perto.
Um momento de solidão, um disfarce, um momento de reflexão. Sou eu olhando não mais apenas o espelho, mas vendo através dele, e ao inverso. Sinto como ante grande transformação, de tudo o que há pouco restará. Mas, o que permanecer, será forte e vivo.

sábado, 19 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sentidos

Galarina e Sonho Causado Pelo Voo de Uma Abelha ao Redor de uma Romã Um segundo Antes de Acordar - Salvador Dali
http://www.dali.gallery.com/

Se eu pensar que você sente como eu,
Não ver você perderia o sentido.
Se eu pensar que você não sente como eu,
Ver você perderia o sentido.
Pensar já perdeu o sentido,
Mudar o que sinto não faz sentido.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Meu Querer

A Própria Terra, Minha Enfermeira e Eu - Frida Kahlo




tomou o meu corpo em suas mãos
envolvendo-me 
movendo-se lentamente
seu corpo junto ao meu
em movimentos ritmados
levando-nos além
entrego-me por inteiro
e encontro todo o meu querer

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Pensar e Sentir

Retrato da Modelo - Giovanni Boldini


A verdade é que consigo pensar racionalmente,
Mas não consigo sentir racionalmente.
E se estivéssemos no mesmo lugar,
O pensamento seria insaciável.
Eu sou muito sexual.
E não há banho frio que me cure.
A ideia de suas mãos no meu corpo,
Ideia que vive além dos limites da mente,
Está na minha pele, poros, percorre-me por inteiro.
O beijo quente, molhado,
meio que mordendo, arrastado, dolorido...
E eu pergunto-me quem é mais louca eu ou você?
Eu gosto dessa loucura...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Transformação Vital

Os Felinos - Franz Marc



Ele disse, no escuro, ainda dentro dela. Ele disse “amo você”. Disse o nome dela, e disse “amo você”. Encheu-se dele, das palavras dele. Calou, como que para não macular o momento. Não ansiou por ouvi-lo repetir tais palavras. Não havia razão alguma para repetições. Estava dito. Acolheu suas palavras, no escuto. Mal via seu rosto, mas as palavras ainda as escuta.


A primeira vez em que o ouviu a voz dele não tinha um rosto, e não precisava ter. Voz. Foi primeiro a voz.  E só depois as palavras, que se mostraram tão próximas, coisas que ela diria. Ai veio o gesto, o jeito de olhar no seu olho com o olho brilhando. O riso alegre, um ar de menino. Não havia o que cuidar no menino, pôs-se a brincar com ele.


A rua, dúvida, vontade e escolha. Um silêncio de anunciação. Caminharam ainda um tanto afastados, sabendo que o caminho fora aberto. Veio o crescente encantamento, alegrias bobas, alegrias tão bem vindas. Mais olhos que se olhavam alheios ao resto do mundo. Ouviram muito, mostram ainda mais. A despedida, um tanto sem jeito, medo de interromper o encantamento. Por fim o beijo, adolescente beijo que não quer acabar de beijar. O beijo que parou para dar tempo da vontade crescer. Antes um último som, que falava sem rosto, mais do que as palavras diziam.


A vontade cresceu. O reencontro, um novo lugar, palavras, muitas palavras e corpos que seguiam por vontade própria. A porta se fechou e os corpos falaram sem palavras, misturando-se, desejando-se, encontrando-se. Não couberam regras, elas ficaram do outro lado da porta. O tempo parou, a noite virou dia e deixou a certeza de um momento único compartilhado. Um encontro, um reconhecimento, a clareza de que começara ali um não sei o quê mágico.


Pessoas comuns não se metem em encrencas, não quando as podem evitar. Pessoas especiais pressentem encrencas e sabem que não há outro caminho a seguir. Seguiram.
Misturaram-se, ele trouxe música de volta a casa dela. Deitou ao seu lado na cama. Despertou-a de tantas formas que fez da manhã mais colorida. Ela pôs a mesa enquanto ele a olhava. Via-se feliz, com a mesa posta e ele ali, falando de coisas que a fazeram sentir uma profunda clareza quanto à não existência do tempo. Só o momento repetindo-se de formas múltiplas.


Tempo, em verdade esse nunca parou, só o ignoravam. Porque de fato o tempo era outro. Há muito conheciam-se, e os dias que seguiram-se soavam como anos, repletos de momentos tão familiares quanto surpreendentes. Olhando para ele entendeu que as coisas estavam onde deveriam estar. eles estavam onde deveriam estar. Onde queriam estar.
Eis que houve o que no intimo temiam, o real, o tempo. Passado e futuro questionando-os, cobrando respostas a perguntas as quais não queriam responder.  Melhor não existir ontem, melhor ser só agora! Todos os dias sendo só agora. Pessoas, ainda que especiais, não são perfeitas. Por isso são especiais. Hoje há música em casa. E ainda que ele não esteja lá, ela ri com felinos.



PS: ao som de “The Mahavishnu Orchestra - Vital Transformation". (muito apropriado!)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Bolhas

Bolhas de Sabão - Sir Jonh Everet Milla


Felicidade não é prêmio ou conquista, é resolução. 
Um dia você decide que será feliz. 
Não se seu time vencer, 
não se ela amar você ou se você ganhar dinheiro. 
Você será feliz por estar vivo e esse é o único motivo... 
Eu  vejo a felicidades como coisa simples, 
é bolha de sabão, 
se enche de ar, 
flua coloria,
e de repente estoura, 
finda-se. 
mas quem decide ser feliz,  não pensa no que perdeu, 
alegra-se pelo que teve.
Não tem medo de ser feliz de novo... 
faz outra bolha, 
e é feliz por vê-la no ar pelo tempo que durar...

domingo, 13 de novembro de 2011

Eu Sou, Você É


Amendoeira em Flor - Vincent Van Gogh


Você chama-me amor na escuridão,
Você diz isso com palavras e silêncio.
Em silêncio, eu vi o seu coração,
é tão bonito, e não há palavras lá.
Eu vou chamá-la amor.
Tempo, vida, razão,
O certo e o errado.
Não há nada que pode manchar nossos sentimentos.
Somos livres quando vivemos a nossa verdadeira forma.
Eu sou, você é.
Isso é tudo que eu preciso saber.
O resto é nada,
E eu não me importo.

sábado, 12 de novembro de 2011

A Menina

Uma Menina Escrevendo - Henriette Browne


A menina criava historias, brincava com as palavras. Olhava o mundo com encantamento, tanto o mundo de fora quanto o de dentro. Por cercar-se do lúdico, via cores outras no cinza do real. Uma alma inquieta, buscando o que há de bom, belo e amado nos mais simples acontecimentos.
Muitas vezes a julgaram tola. Dotada de grande impulsividade, jogava-se na vida como quem salta precipícios diariamente. Os medos que tinha eram poucos, e não os temia de fato, eles a lembravam de sua humanidade. Mostrava-se forte, tanto que muitos a chamavam fortaleza, mas tinha fraquezas sim, apenas nunca se rendia à elas.
Optara pela vida muito antes de pisar esse chão.
Em dias de chuva, andava devagar, gostava de sentir os cheiros das coisas mudando. Por vezes deixava-se molhar. Conhecia a maldade do homem, e insistia no velho hábito de crer. Crendo sentia-se viva.
Muito do mundo ela intuía, alimentando-se daquilo que amedrontava o rebanho. Encenava sonhos, e a noite visitava mundos outros. Tinha os olhos de menina e a palavra de anciã. Sendo sua própria tribo, travou guerra e dançou em volta do fogo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Diálogo I


 
“Ohhh...Alright...”- Roy Lichtenstein



- Isso é muito doido! Nossa... Ficaria horas da minha vida me perdendo em você...


- E como acontece isso?


- Apenas enlouquecida pela pessoa. (pausa) Momento reflexivo: Sentindo apenas, sentindo tudo que foi dito... Pensando em tudo e um pouco mais, até a cabeça dar nó.


- Hum...


- Deitando ao seu lado só pra abraçar você, colocar a cabeça no seu peito, num aconchego terno.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Sofá

 Mulher no Sofá - Isa Pontual


A fantasia perfeita,
Alimentar-me apenas de sexo e água.
Um banho frio
Para que eu possa mexer-me.
Com uma ideia fixa,
Não que isso seja ruim.
E o que você é?
É o que está em torno dela.
Praticamente uma sessão, com a diferença da lucidez.
Indo fundo até o desfecho
que é tenso.
E o sofá foi feito para isso...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Querer Além do Quando

Estudo de Mulher - Luiz Gonzaga Duque Estrada



engraçado como se escolhe as palavras...
quando você está presente me atenho aos detalhes
quando não está, me deixo levar pelos pedaços da memória
ainda mais quando me deito, e deito ao lado a sanidade
matando minha sede com as palavras que bebo de sua boca
me vejo andando de um lado à outro
e você me puxando pelo braço
me trazendo para o seu colo
eu, com o pensamento fixo em você
só a vontade de ter você
até que se misture à mim e
quando me toca desliza suave para o dentro de mim
e no fim, olhar por cima do ombro e ver você,
sentir você pesar o corpo no meu corpo
virando lentamente e olhando tão profundamente
como que me vendo por dentro e inteira e além
me levando muito além

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Isso Que Não Tem Nome

Musique - Matisse

você se mostra de maneiras não pensadas
e eu sigo o mesmo caminho
ou é você que responde ao meu chamado?
não sei quem deu o primeiro passo
quem começou isso que não tem nome,
e que nos consome
inútil tentar resistir
você já entrou em mim
povoou minha alma com sonhos e desejos
hoje é você o que chamo sonho e desejo

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Há Quem Diga

  Mulher no Boxe - Alyssa Monks


Há quem diga por ai
que não sou fácil não!
que digo a coisa errada
na hora mais inapropriada
que sempre chego atrasada
e falo muito palavrão
que sou impulsiva demais
exagerada demais
ansiosa demais
que faço perguntas demais
penso demais
amo demais
que ora durmo demais
ora fico insone demais
e nunca digo o que me dói
que desafino loucamente
erro a letra, displicente
troco os moveis de lugar
falo coisas esquisitas
gosto muito de birita
e de música pra dançar
que vou muito à rua
ando sem pressa na chuva
sempre quero ver o mar
que sou cheia de vontades
muitas vaidades
e verdades no olhar
que não tenho tempo ruim
com muitos bichos à minha volta
e alguns monstros dentro de mim
que faço pose e acho graça
rio alto e sou devassa
tudo pra não mostrar o que trago em mim
digo:
-Sou mesmo assim!
e um outro tanto de coisas
que não cabem aqui
coisas que só pode vê
quem um dia me descobrir

domingo, 6 de novembro de 2011

Flores Com o Nome Dela

Margaridas - Gravura - Miguel Vasques



quero plantar flores pelo mundo
flores com nome dela
que falem de amor profundo
exalando perfume de primavera

quero flores por toda parte
no canteiro, no vazo, na janela
flores também na minha pele
e pelos cantos da casa dela

que falem de amor profundo
exalando perfume de primavera
quero plantar flores pelo mundo
flores com o nome dela

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Para Dizer Adeus

A Carta Gravura em Metal e Xilogravura - Frans Wesselman


Pessoas se vão o tempo todo
Por vezes entendemos a razão no partir
Mas, quando quem se vai é gente nossa
O pesar é tamanho, que fica difícil sorrir
Olhamos em volta,
Buscamos à quem não está mais
Encontramos alento em abraços e rostos
Ainda mais familiares
Irmanados em algo maior que o sangue
A dor estampando os olhares
Choramos juntos, o consolo no afago calado
Tudo ainda tão vivo!
O riso, a palavra ora centrada, ora muito engraçada,
o apelido de infância
Que não morram as lembranças!
A saudade e o legado
De quem muito lutou por permanecer ao nosso lado
e hoje segue aqui, sendo parte,
No peito da gente por ela amada.




Saudades, Ursula lá lá lá...







quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sonho

 Sonho - Marc Chagall
meus sonhos eu sonho como quem respira
alimento-me deles e por eles canto meu canto
a voz por vezes embargada, e ainda assim canto
telas de cores múltiplas eu pinto
retratos de uma história de amor
levo a menina nos olhos e por ela perco o sono
a noite segue e eu canto
ainda que ela não possa ouvir
meu canto hoje é prece:
que ela sinta o acalanto nas minhas vontades
que ela veja o brilho nos meus olhos
que ela ouça a verdade das minhas palavras
que ela durma nos meus braços
que ela tenha uma boa noite
que ela receba o meu bom dia
e no fim de tudo, que ela esteja aqui, forte do meu lado

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Na Rua

Duas Mulheres na rua - Lasar Segall
Você sai à rua e é lá onde eu quero estar
A sua espera, no ponto combinado
Andar ao seu lado, sem medo da chuva
Chuva que molha o corpo e limpa a alma
Faz novo o mesmo querer
Ouço sua voz em meio aos ruídos da cidade
Ela se faz mais clara, viva, você mais viva
Eu espero, perco o sono, mas espero